Pesca e Turismo: Etnografias da Globalização no Litoral do Atlântico Sul.
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Publié le 01 janvier 2009
Nombre de lectures 31
Langue Português

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Vol. 7 Nº 1 págs. 139-143. 2009

www.pasosonline.org


Reseñas de publicaciones


Pesca e Turismo: Etnografias da Globalização no Litoral do Atlântico Sul.
Rial, C. e Godio, M. (Orgs.). Florianópolis: NUPPE/CFH/UFSC. 2006.
ISBN: 85-60501-00-2



Roque Pinto
roquepintosantos@gmail.com
Universidad de La Laguna (España)
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) (Brasil)





Desde um ponto de vista superficial, os interferência – deliberada ou involuntária –
pontos de tangência entre turismo e pesca dos turistas sobre as atividades de pesca
se resumiriam à prática do turismo espor- (Hernández Armas, 1994) e nas alterações
tivo, especialmente na sua versão náutica, ecológicas produzidas pelo rápido incre-
e à presença de pescadores como parte da mento de uma população flutuante gerada
paisagem turística, atribuindo-se-lhes um pelo turismo (Galván Tudela, 2002; Pascual
papel coadjuvante dentro de um cenário Fernández, Medina y Modino, 2005).
idealizado (Peralta, 2003), como se pode ver Por outro lado, a literatura sobre o tema
em capitais litorâneas do nordeste brasilei- indica a tendência a uma crescente depen-
ro como Natal, João Pessoa, Maceió ou For- dência econômica dos pescadores em rela-
taleza. ção ao sistema turístico, não só com o esta-
Contudo, verificam-se empricamente in- blecimento de oligopsônios e redes de in-
tersecções, relações e imbricamentos menos termediários que impedem o fornecimento
óbvios entre turistas e pescadores, a come- de pescado para terceiros, como também
çar pelas consequências sócio-culturais, com um comprometimento cada vez maior
econômicas e ecológicas derivadas da im- das unidades familiares locais em ativida-
plantação de equipamentos turísticos em des de serviço que se estabelecem nas fran-
zonas costeiras (Vera Galván, 1988; Cáce- jas do turismo, registrando-se inclusive a
res Morales, 2001; Bergasa Perdomo, 2004). perda de conhecimentos tradicionais sobre
De fato, o establecimento de uma estru- as atividades piscatórias (Santana Talave-
tura imobiliária turística no espaço de uma ra, 1990; Bianchi and Santana Talavera,
comunidade haliêutica já produz de per si 2004).
uma série de conflitos que envolvem dispu- A partir do título do livro “Pesca e Tu-
tas por recursos e, sobretudo, estratégias rismo: Etnografias da Globalização no Lito-
políticas e econômicas direcionadas para o ral do Atlântico Sul” cria-se uma expectati-
controle do território (Pascual Fernandez e va inicial de que estes e outros pontos de
Santana Talavera, 2003), cuja materialida- tangência entre turismo e pesca serão a-
de imediata pode ser constatada pelo menos bordados em profundidade na obra, divida
no avanço dos hotéis sobre as praias, na em três seções.
© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 140 Pesca e Turismo: …

A primeira parte do trabalho, intitulada rações – conjuga quatro trabalhos que a-
“Cultura e Comunicação”, contém cinco bordam sob distintas perspectivas a socia-
textos. O primeiro deles, de autoria de bilidade familial no entrecho da Ilha de
Carmen Rial, é uma releitura de suas in- Santa Catarina. Em “Gente do mar e da
vestigações etnográficas realizadas na dé- terra: revisitando velhos textos e lugares de
cada de 1980, especialmente no que diz pesquisa”, Lago aponta algumas particula-
respeito à configuração do espaço social ridades sociológicas que marcaram suas
numa parte da Ilha de Santa Catarina (lo- investigações na região há vinte anos atrás,
calizada no município de Florianópolis, enfocando sobretudo as relações entre gê-
capital do Estado de Santa Catarina, ao sul nero e trabalho, e as mudanças verificadas
do Brasil), apontando como um certo isola- no campo ao longo do tempo, foco seme-
mento insular – marcado por uma proemi- lhante ao que se vê em “Crianças da Pesca:
nência açoriana – já subsumia formas de lembranças de uma pesquisa na Ilha de
sociablidade em latência que mais tarde Santa Catarina”.
iriam ser modeladas através dos veículos de Os textos “Temporalidade pesqueira e
comunicação de massa e pela chegada de espaços feminino e masculino em Ganchos”
turistas e forâneos, processo que é atuali- e “Masculinidades prescritas, interditas e
zado na descrição etnográfica “Estranhos e relativizadas em um grupo de pescadores
estrangeiros: olhares sobre a mídia em da Ilha de Santa Catarina” destacam-se no
Ganchos/Ganchos na mídia”, que retrata as conjunto da obra pela sistematicidade e
aproximações entre o global e o local sob a pelo rigor etnográfico. Em ambos são abor-
perspectiva da interação midiática. dadas categorias temporais e espaciais,
Já o artigo “Turismo e modernidade em respectivamente nas localidades de Gan-
tempos de globalização: o turismo e os tu- chos e de Dourado, a partir do rol de papéis
ristas em Barra da Lagoa” trata mais pro- sociais definidos no âmbito das unidades
priamente da atividade que o nomeia, tanto familiares e da divisão sexual do trabalho,
em suas generalidades, enfatizando a praia sendo o último bastante elucidativo ao a-
como um espaço privilegiado de fruição portar a descrição de uma festa junina local
turística, e suas co-relações como a moder- onde é tradição o travestismo masculino, na
nidade e a globalização, quanto na sua di- assunção de um papel interdito no cotidia-
nâmica específica no contexto etnográfico no que acaba por reforçar os próprios loci de
na praia da Barra da Lagoa, temática i- homens e mulheres na referida comunida-
gualmente eleita no trabalho “Práticas tu- de, “a oposição autoridade masculina vs.
rísticas e mediação cultural em Florianópo- poder feminino” (p. 152) num mundo social
lis/SC”, que enfoca a apropriação do espaço cadenciado pelos longos períodos de ausên-
local pelo turismo, ressaltando especial- cia dos homens nos seus lares, em função
mente a importância dos “mediadores cul- das demandas da pesca.
turais” e das formas de dádiva e reciproci- A última seção do livro, dedicada ao te-
dade que intermediariam – revisando o ma “Arte e Trabalho”, começa com o texto
esquema damattiano – as moralidades “da “Aparelhos de captura: uma re-abordagem
casa e da rua” nas relações entre turistas e teórica da experiência de campo com pesca-
locais, segundo os modos de relação que dores de bote a motor na Barra da Lagoa”,
seriam estabelecidos entre visitantes e visi- onde o autor concebe o trabalho da pesca
tados. como uma atividade que tangencia três
O último texto deste bloco procura tra- fronteiras: a relação entre mercado e em-
tar, no mesmo campo etnográfico, das inte- presa; a produção social e cultural subja-
rações conflituosas entre surfistas “locais”, cente ao próprio labor da pesca; e um con-
“haolis” (surfistas forasteiros) e pescadores, junto de ferramentas políticas para a ma-
embora se detenha demasiadamente em nutenção do poder e da autoridade.
aspectos alheios ao tema, como a história Além de articular teoria e etnografia
do surf mundial e no Brasil, e utilize recur- com brilhantismo, o trabalho se destaca por
sos metafóricos abusivamente, relegando o apresentar uma aguda capacidade de aná-
tema proposto a apenas escassas páginas, lise ao perceber os mundos da economia, da
ao final do texto. política e da pesca inscritos dentro de uma
O segundo bloco do livro – Gênero e Ge- perspectiva simbólica mais geral, como se
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(1). 2009 ISSN 1695-7121

Roque Pinto 141

pode ver, por exemplo, na interpretação do prescritas, interditas e relativizadas em um
autor a respeito da fala de um informante grupo de pescadores da Ilha de Santa Cata-
sobre a tainha, por este definido como “o rina”.
bicho mais lascivo que tem no mar”: De algum modo, a introdução da obra,
“É interessante ver que o ‘eterno femi- “Caracterização cultural, econômica e social
nino’ aparece como tendo importância na das comunidades pesqueiras da Grande
pesca e outorgando a identidade e o tempe- Florianópolis”, dá a t

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