Interfaces entre turismo e migrações: uma abordagem epistemológica
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Resumo
Este estudo objetiva sistematizar as várias interfaces entre turismo e migrações, buscando contribuir com a teoria turística a partir dos estudos da mobilidade. E uma primeira tentativa de abordar o tema, que parte de três afirmações factuais
a primeira, que turismo e migrações são duas manifestações de um fenômeno maior, qual seja o da mobilidade ou deslocamento geográfico que inclusive compartem motivações e objetivos
a segunda, que a mobilidade é um fenômeno crescente
a terceira, que as tecnologias relacionadas à comunicação e a informação propiciam maior mobilidade.
Abstract
This paper aims to register some interfaces between tourism and migrations as a contribution to tourism theory grounded on studies on mobility. In this first approach, the author begins with three factual statements: first, tourism and migration are two sides of a greater social phenomenon- mobility or geographical displacement- which share motivations and objectives
second, that mobility is a growing phenomenon
third that new information and communication technologies help mobility.

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Publié le 01 janvier 2009
Nombre de lectures 41
Langue Português

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Vol. 7 Nº1 págs. 1-11. 2009

www.pasosonline.org


Interfaces entre turismo e migrações: uma abordagem epistemológica

iiMargarita Barretto
Univ. Regional de Blumenau – Univ. Federal de Santa Catarina (Brasil)


Resumo: Este estudo objetiva sistematizar as várias interfaces entre turismo e migrações, buscando
contribuir com a teoria turística a partir dos estudos da mobilidade. E uma primeira tentativa de abordar
o tema, que parte de três afirmações factuais; a primeira, que turismo e migrações são duas
manifestações de um fenômeno maior, qual seja o da mobilidade ou deslocamento geográfico que
inclusive compartem motivações e objetivos; a segunda, que a mobilidade é um fenômeno crescente; a
terceira, que as tecnologias relacionadas à comunicação e a informação propiciam maior mobilidade.

Palavras-chave: Turismo; Migrações; Sociedade; Cultura.


Abstract: This paper aims to register some interfaces between tourism and migrations as a contribution
to tourism theory grounded on studies on mobility. In this first approach, the author begins with three
factual statements: first, tourism and migration are two sides of a greater social phenomenon- mobility or
geographical displacement- which share motivations and objectives; second, that mobility is a growing
phenomenon; third that new information and communication technologies help mobility..

Keywords: Tourism; Migrations; Society; Culture




ii • Margarita Barretto e Doutora em Educação, com ênfase em Ciências Sociais Aplicadas e Bacharel em Turismo.
Docente da FURB-Fundação Universidade Regional de Blumenau e do Programa de Pós Graduação em Arquitetura
da UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina Editora da RBTur- Revista Brasileira de Pesquisa e Póst
graduação em Turismo.Coordenadora da coleção Turismo da Editora Papirus e escritora de livros sobre o tema..
E-mail:barretto@floripaturbo.com.br
© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 2 Interfaces entre turismo e migrações: ...

Conceituação Urry, (1994, cap. 10) Rojek e Urry (1997) e
fundamentalmente a obra de Kaplan
Os fenômenos estudados, turismo e (1996), são indicativos de que a experiência
migrações, apresentam estágios de migratória e a experiência turística têm
pesquisa científica diferenciados, o que muitos pontos em comum no presente
torna sua análise e comparação tarefas momento histórico. Tampouco deve ser
complexas. coincidência que um dos primeiros
O conceito de turismo está ligado, tanto sociólogos a estudar turismo, Emmanuel de
no imaginário popular quanto no âmbito Kadt, está no momento defendendo o
científico, a situações prazerosas, lúdicas, direito dos imigrantes a manterem suas
de lazer, diversão e/ou férias. respectivas culturas de origem nos lugares
O de imigração, ao contrário, está que escolheram para residir (de Kadt e
representado no imaginário popular como Williams, 2001)
uma experiência de sofrimento, Não obstante, estes estudos têm pouca
desenraizamento, luta, pobreza, privação. representatividade dentro do contexto
No entanto, trata-se de fenômenos que acadêmico mundial. Lash e Urry (1994, p.
incluem deslocamento no espaço, mudança 254) afirmam que há pouca pesquisa sobre
de lugar de residência e muitas vezes, a mobilidade, que se evidencia na ausência
obedecem ao desejo de evasão. de uma sociologia da viagem e defendem
Há consenso de que as migrações que se façam estudos da organização social
constituem fenômenos sociais totais, que da mobilidade e os efeitos desta na
precisam do concurso de muitas disciplinas subjetividade das pessoas.
que dêem conta tanto dos processos No editorial do primeiro número de uma
emigratórios quanto dos imigratórios revista dedicada aos estudos de turismo, os
(Sayad, 1992), consenso que também já mencionados Franklin e Crang (2001, p.
começa a se perfilar nos estudos de 11) dizem que, o turismo deveria procurar
turismo. nexos com outras mobilidades, tais como a
Muitas pessoas percebem ou vivenciam migração e as diásporas, o que denota a
a continuidade entre um e outro fenômeno. ausência deste tipo de estudos.
Em pesquisa realizada para sua tese de A União Internacional de Geografia
doutorado, (Barretto,1998) esta (IGU), a través do Grupo de Estudos em
pesquisadora estudou casos de uruguaiosGeografia do Turismo Sustentável vem
residentes numa cidade do interior realizando, desde 1998, estudos
paulista, comprovando que muitos deles interdisciplinares sobre as várias interfaces
não se auto identificavam como em turismo e migrações: o turismo como
“imigrantes” Todos os entrevistados uma forma de migração, o turismo gerando
realizavam viagens freqüentes para ver migrações e as migrações gerando fluxos
suas famílias no país de origem, e turísticos, e relacionando estas com as
mantinham uma comunicação constante mudanças sociais, culturais e espaciais e
por internet e telefone. Muitos inclusive identitárias da atual fase da globalização.
tinham começado sua trajetória como Os coordenadores do projeto afirmam que:
residentes no Brasil, na condição de O nexo entre o turismo e as mi-
turistas: a partir de uma viagem turística, grações representa um território
apaixonaram-se pelo país ou pela cidade, e fértil e até agora virgem ofere-
decidiram morar nela. cendo ricas recompensas para os
Um fato semelhante foi constatado num pesquisadores de turismo e mi-
estudo sobre turismo em Canasvieiras, grações. (Hall e Williams, 2002,
praia de Florianópolis (Barretto,2002) onde, p. 3)
embora o assunto não fosse o foco, a No Brasil, essa aproximação progressiva
evidência empírica mostrou que muitos entre migrações e turismo, tanto de forma
turistas transformaram-se em residentes, estrutural quanto a partir da percepção dos
legais ou ilegais. sujeitos não tem sido trabalhada, ou pelo
Os estudos sobre o tema realizados por menos não há publicações que indiquem
outros autores, como Hall (2000) Lasch e
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 7(1). 2009 ISSN 1695-7121

Margarita Barretto 3

que estudos desta natureza estejam sendo muito estrita, conforme pode-se constatar
realizados. mediante observação empírica
Pelo contrário, parece haver uma Em outros países, como por exemplo
separação bem clara entre aqueles que Austrália e Israel, há outro tipo de
estudam o tema migrações, que é legislação que permite o trabalho
considerado um “objeto sério” de estudos temporário, por exemplo o visto de férias
para a antropologia, a geografia, a com possibilidade de trabalho (working
demografia e a história, e os estudos de holiday visa)
turismo, que são considerados,
historicamente dentro da academia, como A Mobilidade geográfica
campo “pouco sério”, havendo até
discriminação para com aqueles cientistas “A sociedade moderna é uma sociedade
que a ele se dedicam. em movimento” (Lash e Urry, (1994, p.
Em nível mundial, podem ser 252). Com esta afirmação, colocada na
mencionados os estudos que John Urry primeira frase de um capítulo de um livro,
desenvolve no Instituto da Mobilidade, da os autores não deixam dúvida quanto a sua
Universidade de Lancaster (Inglaterra) e visão da importância da categoria
da Nova Zelândia, onde o geógrafo Michael mobilidade para a sociedade
Hall coordenou durante vários anos, a contemporânea. Esta visão, porém, é
partir da Universidade de Otago, o Projeto relativamente nova dentro da academia,
de Pesquisa em Turismo e Migrações. onde até a década anterior prevalecia a
visão da mobilidade voluntária como “uma
Turismo e Migrações perante a Lei atividade trivial e periférica” (Lash e Urry,
1994, p.257), visão esta estimulada, em
Do ponto de vista legal ser turista ou grande parte, pelo trabalho seminal de
imigrante é, em qualquer parte do mundo, Turner e Ash, o livro The Golden Hordes (A
uma questão de vistos. horda dourada). Lash e Urry enfocam a
No Brasil, existem sete tipos de visto mobilidade a partir das possibilidades da
concedidos aos estrangeiros, para tecnologia, que propiciou a compressão do
permanecerem por diferentes períodos de tempo e do espaço, mas n

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