Almas Mortas
209 pages
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Almas Mortas , livre ebook

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Description

Se Púchkin foi o grande poeta da literatura russa moderna, Nikolai Gogol foi o seu grande prosador e «Almas Mortas» o seu grande livro. Este escritor ucraniano imaginou uma grande obra épica que não só retratasse a Rússia como lhe delineasse o futuro. Imaginou essa obra em três tempos, à maneira de «A Divina Comédia», por esta ordem: o inferno, o purgatório, o paraíso. Pelas vicissitudes da sua vida e do seu percurso espiritual, Gogol ficou-se pelo inferno, ou seja, pelo volume de «Almas Mortas», obra que conta a chegada do vigarista Tchichikov a uma cidade provinciana da Rússia esclavagista com o intuito de comprar aos senhores da terra locais, para fins inconfessáveis, almas mortas (servos da gleba já falecidos, mas que ainda constavam dos registos de recenseamento como vivos).
Estilo mordaz mas subtil, uma veia satírica e uma escrita moderna ainda hoje inimitáveis — é assim «Almas Mortas».

Sujets

Informations

Publié par
Date de parution 11 novembre 2017
Nombre de lectures 1
EAN13 9789897781094
Langue Português

Informations légales : prix de location à la page 0,0007€. Cette information est donnée uniquement à titre indicatif conformément à la législation en vigueur.

Extrait

Nikolai Gogol
ALMAS MORTAS
Índice
 
 
 
Parte 1
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Parte 2
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
 
Parte 1
Capítulo 1
 
 
 
De par em par, abriu-se o port ã o de uma hospedaria de capital de distrito, para dar passagem a uma caleche de molas, um desses cochezinhos usados por solteir õ es, comandantes e capit ã es de reserva, fazendeiros, donos de uma centena de servos, em suma, todos os chamados « nobres da classe m é dia » . Na caleche vinha um cavalheiro, nem feio nem bonito, nem gordo nem magro, nem velho nem novo. A sua chegada à cidade passou completamente despercebida: apenas dois homens do povo, que estavam à porta de uma taberna, defronte da hospedaria, trocaram entre si olhares significativos, mais referentes ao ve í culo que ao viajante.
— Repara nessa roda — disse um deles. — Em caso de necessidade, chegaria a Moscovo?
— Acho que sim — respondeu o outro.
— Mas at é Kazan é que n ã o aguentava...
— Isso é mais que certo — foi a resposta.
A conversa ficou por aqui. Pr ó ximo do hotel, a traquitana passou por um mancebo, de cal ç as de bombazina branca, estreitas e curtas, com um fraque a arremedar a moda e uma gravata presa por um alfinete de bronze de Tul á em forma de pistola. Voltou-se o rapaz, contemplou o ve í culo, segurou o chap é u que amea ç ava voar, e seguiu o seu caminho.
Quando o cavalheiro chegou ao p á tio, foi recebido por um criado t ã o expedito, t ã o mexido, que dificilmente podiam distinguir-se-lhe as fei çõ es. Correu com uma toalha na m ã o, encafuado num largo sobretudo de fust ã o que o cobria at é acima da nuca, sacudiu a gola de peles e conduziu o cavalheiro ao primeiro andar, pela escada exterior, de madeira, para indicar o alojamento que a Provid ê ncia lhe destinava. O tal alojamento era vulgar í ssimo, como a pr ó pria hospedaria, semelhante a todas as hospedarias de capital de distrito, nas quais, a dois rublos por dia, desfrutam os viajantes um quarto sossegado, e onde, por todos os cantos, aparecem carochas gordas como ameixas; com uma porta sempre embargada por uma c ó moda que se abre para o compartimento cont í guo, ocupado por outro h ó spede, á vido de conhecer tudo o que se passa no aposento do vizinho. A fachada do hotel correspondia ao interior e estava dividida em dois andares. O primeiro, pintado de amarelo, conforme o imut á vel costume; o r é s do ch ã o, n ã o rebocado, exibia ladrilhos cuja primitiva sujidade fora aumentando com as intemp é ries. Ocupavam-no tendas de correeiros, cordoeiros e padeiros. A da esquina, ou melhor, uma das janelas, dava asilo a um vendedor de hidromel, possuidor de um samovar de cobre vermelho e de uma cabe ç a t ã o rubicunda que, se n ã o fosse a sua barba de azeviche, tomar-se-ia, de longe, por outro samovar.
Enquanto o viajante examinava a casa, chegou a bagagem: primeiro, uma maleta de pele branca, algo estragada, cuja viagem inicial n ã o era aquela, certamente; trouxeram-na o cocheiro Selifan, homenzito com uma samarra de carneiro, e o lacaio Petrushka, mo ç o de trinta anos, metido numa avantajada sobrecasaca herdada de seu amo, de aspeto um tanto feroz, de nariz muito grande e bei ç os grossos. Depois, transportaram uma caixa de acaju, de tamanho mediano, artisticamente embutida de é bano de Car é lia, em forma de bota e, por fim, um frango assado, embrulhado em papel azul. A seguir ao que, o cocheiro Selifan foi cuidar dos cavalos à estrebaria, enquanto o lacaio Petrushka se instalava na ex í gua antec â mara, recinto escuro onde tinha deixado j á a sua capa, assim como um cheiro muito peculiar. Levou para a í um saco contendo os objetos de seu uso particular, impregnado tamb é m do referido odor. Nesse cub í culo armou, ao longo da parede, uma estreita jazida de tr ê s pernas, sobre a qual estendeu qualquer coisa que, de longe, se parecia com um enxerg ã o, amassado e chato como uma omelete, e que, à for ç a de s ú plicas, tinha conseguido obter do dono da hospedaria.
Enquanto os criados se arranjavam, o amo dirigia-se à sala de visitas, familiar a todos os viajantes. As mesmas paredes pintadas a ó leo, enegrecidas pelo fumo na parte superior, sujas na inferior pelas costas dos fregueses e, sobretudo, pelos negociantes da regi ã o que, em grupos de seis ou sete, ali iam tomar ch á nos dias de feira; o mesmo teto defumado; a mesma aranha mofosa cujos compactos bordados tremem de cada vez que o criado entra na sala, balanceando uma bandeja, na qual os copos se encostam uns aos outros como gaivotas na praia; os mesmos quadros a ó leo, ocupando todo o comprimento da parede. Em suma: o que se v ê por toda a parte. A ú nica particularidade era uma ninfa, com o peito de uma t ã o inveros í mil opul ê ncia, que o bom leitor jamais ter á encontrado coisa assim. Este capricho da natureza encontra-se, por vezes, em certos quadros hist ó ricos trazidos para a R ú ssia, n ã o se sabe quando nem por quem; decerto pelos nossos rica ç os amantes da arte, que os ter ã o comprado na It á lia, talvez por indica çã o dos seus guias.
O cavalheiro tirou o gorro e aliviou o pesco ç o da manta de l ã multicolor que o envolvia, um desses agasalhos que as mulheres fazem para os maridos, com s á bias recomenda çõ es acerca do modo como devem traz ê -las. N ã o as tendo nunca usado, ignoro em absoluto quem toma esse cuidado em rela çã o aos solteiros. Depois, o cavalheiro pediu de comer. Colocaram-lhe em frente a lista habitual das hospedarias: sopa de couves acompanhada de uma torta de massa folhada, conservada, à cautela, desde h á v á rias semanas; miolos guisados; salchichas; um frango assado; salada de pepino; e o sempiterno pastel de marmelada, bom para todas as emerg ê ncias. Enquanto lhe serviam estes manjares, frios ou requentados, o cavalheiro interrogou o criado sobre toda a esp é cie de futilidades. Quanto rendia a pousada? A quem pertencia dantes? Era um grande velhaco o atual dono? Esta ú ltima pergunta confirmou-a o mo ç o com a resposta da praxe:
— Oh, sim, senhor, é um p á ssaro de alto l á com ele!
Decididamente, na R ú ssia, como ali á s em toda a Europa, pululam em nossos dias pessoas muito respeit á veis que n ã o podem desjejuar na hospedaria sem entabular conversa e gracejar com o criado. Al é m de que, o h ó spede n ã o perguntava sen ã o coisas ociosas. Inteirou-se com meticulosidade a respeito dos nomes do governador, do presidente do tribunal, do procurador, de todos os altos funcion á rios. Pediu pormenores ainda mais concretos sobre os propriet á rios rurais dos arredores; quantos servos tinham, a que dist â ncia moravam da cidade, se vinham a ela com frequ ê ncia e qual era o seu feitio. Informou-se cuidadosamente do estado da comarca; n ã o teria sofrido alguma epidemia, febre infeciosa, var í ola ou outra doen ç a do mesmo g é nero? Todos os dados eram pedidos com tanta insist ê ncia, que revelaram alguma coisa mais que simples curiosidade. Este cavalheiro tinha uns modos desembara ç ados; notava-se-lhe a particularidade de assoar-se com um ru í do extraordin á rio; n ã o sei como arranjava isso, mas o certo é que o seu nariz ressoava como uma trombeta. Este pormenor, muito inofensivo certamente, valeu-lhe a decidida considera çã o do mo ç o que, a cada nova nota, sacudia a gola de peles, adotava uma atitude mais respeitosa e, inclinada a cabe ç a com ar aristocr á tico, perguntava:
— O senhor deseja...?
Depois de comer, o viajante pediu uma x í cara de caf é e afundou-se no sof á , com as costas apoiadas num almofad ã o, cheio, em lugar de crinas, de uma subst â ncia que dava a ideia de ladrilhos ou pedras, como é costume nas pousadas russas. Depressa come ç ou a bocejar e fez-se conduzir ao seu quarto, onde repousou umas boas duas horas. Depois de ter descansado, escreveu num bocado de papel, a pedido do criado, o seu nome, apelido, graus, sol í cito em comunic á -los a quem de direito. Enquanto descia a escada, o mo ç o leu: Pavel Ivanovitch Tchichikov , propriet á rio rural, viajando para assuntos do seu interesse.
N ã o tinha ainda acabado de decifrar o bilhete e j á Pavel Ivanovitch Tchichikov em pessoa percorria a cidade, de que pareceu gostar, pois n ã o a achou inferior a outras capitais de distrito. A cor amarela das casas de pedra surpreendia a vista, em contraste com a modesta cor cinzenta das casas de madeira. As constru çõ es consistiam num r é s do ch ã o, coroado à s vezes por um andar e at é por uma sobreloja, a eterna mazzanine, tanto do gosto dos nossos arquitetos de prov í ncia. Em certos s í tios, estas casas pareciam perdidas entre uma rua larga como um campo e intermin á veis estacadas; por vezes, apertavam-se umas contra as outras e notava-se ent ã o mais movimento, mais

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