Cinco Semanas de Balão , livre ebook

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Atravessar o continente africano, de leste a oeste, num balão. A ideia é do destemido Dr. Samuel Fergusson e espanta toda a Europa, que se divide em apostas. O livro é o primeiro romance de sucesso de Júlio Verne.
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Publié par

Date de parution

11 novembre 2017

Nombre de lectures

7

EAN13

9789897781032

Langue

Português

J ú lio Verne
CINCO SEMANAS DE BAL Ã O
Índice
 
 
 
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
 
Capítulo 1
 

 
No dia 14 de janeiro de 1862 achava-se reunido numeroso audit ó rio na sala das sess õ es da Real Sociedade de Geografia de Londres, na Pra ç a Waterloo, n. º 3. O presidente, Sir Francisco M..., comunicava nessa ocasi ã o aos seus circunspectos colegas um assunto da maior import â ncia. O seu discurso era constantemente interrompido pelos aplausos.
Este documento, raso de eloqu ê ncia, terminou enfim com algumas frases sonoras e com uns per í odos empolados, que transudavam patriotismo em grossas bagas:
— A Inglaterra tem sempre caminhado à frente das na çõ es, porque haveis de ter notado que as na çõ es andam universalmente umas atr á s das outras, na via das descobertas geogr á ficas pela intrepidez dos seus viajantes (numerosos aplausos). O Dr. Samuel Fergusson, um dos seus gloriosos filhos, n ã o h á de negar a sua origem (de todos os lados: « N ã o! N ã o! » ). Se esta tentativa for a cabo ( « h á de ir! h á de ir! » ) ficam ligadas e completas as no çõ es at é hoje dispersas da cartografia africana (aprova çõ es veementes), e se falhar ( « Nunca! Nunca! » ) ficar á ao menos a mem ó ria da conce çã o mais audaz do g é nero humano (trip ú dio indescrit í vel).
— Hurra! Hurra! — gritou a assembleia, eletrizada por estas comoventes palavras.
— Hurra pelo intr é pido Fergusson! — gritava a parte mais expansiva do audit ó rio.
Reboaram gritos de fren é tico entusiasmo. O nome de Fergusson saiu de todas as bocas, e devemos acreditar que a pron ú ncia inglesa lhe deu singular lustre. A sala aas sess õ es abalou-se. E, todavia, os numerosos assistentes eram todos homens velhos, cansados; eram desses intr é pidos viajantes que haviam sido arrastados por um temperamento irrequieto atrav é s das cinco partes do mundo. Todos, mais ou menos, f í sica ou moralmente, se tinham salvado de naufr á gios, de inc ê ndios, dos tomahawks dos í ndios, dos casse-t ê tes dos selvagens, do poste de supl í cio, dos antrop ó fagos da Polin é sia!
Por é m, nada havia que pudesse comprimir as pulsa çõ es descompassadas destes cora çõ es durante o discurso de Sir Francisco M... N ã o h á ningu é m que se lembre de sucesso orat ó rio mais brilhante na Sociedade de Geografia de Londres.
Mas em Inglaterra o entusiasmo n ã o fica s ó em palavras: cunha moeda com mais rapidez ainda que o balanceiro de Royal Mint. Votou-se pois in continente a favor do Dr. Fergusson, para incitamento da empresa, a quantia de duas mil e quinhentas libras. A import â ncia da soma era proporcional à grandeza do cometimento.
Um dos membros da Sociedade interpelou o presidente, a fim de saber se o Dr. Fergusson seria apresentado oficialmente.
— O doutor est á à disposi çã o da assembleia — respondeu Sir Francisco M...
— Que entre! — gritaram de v á rios lados. — Que entre! Sempre é bom que vejamos com os nossos olhos um homem de aud á cia t ã o extraordin á ria!
— Quem sabe se esta incr í vel proposta — disse um velho comodoro apopl é tico — n ã o passa de uma mistifica çã o ainda mais incr í vel!
— E se o Dr. Fergusson n ã o existisse! — lembrou uma voz maliciosa.
— Seria necess á rio invent á -lo — respondeu galhofeiro, um membro desta solene Sociedade.
— Mandem entrar o Dr. Fergusson — ordenou simplesmente Sir Francisco M...
E o doutor apareceu no meio de um trov ã o de aplausos, sem aparentar a m í nima como çã o.
Era um homem de quarenta anos, de estatura e constitui çã o regulares. No afogueado do rosto denotava um temperamento sangu í neo. Tinha um aspeto frio, fei çõ es regulares e um grande nariz, do feitio da quilha de um navio, que é o nariz do homem predestinado para as descobertas. O olhar meigo, mais inteligente do que ousado, dava-lhe à fisionomia uma atra çã o simp á tica. Os bra ç os eram compridos, e os p é s assentavam no pavimento com o aprumo de um bom caminheiro.
Em tudo era grave e serena a figura do doutor, e a ningu é m lembraria por certo que tal homem pudesse ser instrumento da mais inofensiva mistifica çã o.
Por isso, as honras e os aplausos s ó cessaram quando o Dr. Fergusson, com um gesto am á vel, pediu sil ê ncio. Ent ã o dirigiu-se para a cadeira preparada para a sua apresenta çã o e depois, de p é , hirto, com um olhar en é rgico, levantou para o c é u o í ndex da m ã o direita, abriu a boca e pronunciou esta ú nica palavra:
— Excelsior!
Nem a mais inesperada interpela çã o de Brigth ou de Cobden, nem uma peti çã o de fundos extraordin á rios para coura ç ar os rochedos de Inglaterra, feita por Lord Palmerston, obtiveram jamais um ê xito compar á vel. N ã o. O discurso de Sir Francisco M... foi excedido, ultrapassado completamente. O doutor mostrou-se simultaneamente sublime, grande, s ó brio e preciso, porque este era o termo pr ó prio da situa çã o:
— Excelsior!
O velho comodoro, j á ent ã o catequizado por este homem extraordin á rio, pediu a inser çã o « na í ntegra » do discurso de Fergusson nos boletins da Real Sociedade de Geografia de Londres.
Mas quem era esse doutor? E de que empresa se tratava afinal?
O pai de Fergusson fora um bravo capit ã o da marinha inglesa, que educara o mo ç o entre os perigos e aventuras da sua profiss ã o. Este digno filho, que nunca soube o que era medo, mostrou, desde muito novo, a perspic á cia e a intelig ê ncia do investigador e uma propens ã o declarada para os trabalhos cient í ficos. Mas do que ele deu provas inequ í vocas, desde a mais tenra idade, foi de rara habilidade para se tirar de embara ç os. Basta dizer que pouco ou nada lhe custou habituar-se a comer com o garfo, coisa ali á s dif í cil para as crian ç as.
Imagina çã o ardente, de muito novo se sentiu sobremodo impressionado com a leitura das narrativas das empresas ousadas e das explora çõ es mar í timas. Estudou apaixonadamente as descobertas que assinalaram a primeira parte do s é culo XIX; sonhou com a gl ó ria dos Mungo-Park, dos Bruces, dos Cailli é , dos Levaillant, e at é mesmo, pensamos n ó s, com a de Selkirk, o Robinson Cruso é , a qual lhe n ã o parecia inferior à quelas. Quantas horas deliciosas n ã o passou ele com este her ó i na sua ilha de Jo ã o Fernandes! Muitas vezes aprovou as ideias do marinheiro abandonado, muitas outras discutiu os seus planos e projetos, pensando que teria procedido de outro modo em tal caso, seguramente t ã o bem como ele, e talvez melhor ainda! Mas o que era ponto assente é que n ã o teria abandonado a ditosa ilha onde se sentia feliz como um rei sem s ú bditos... ainda que o quisessem fazer primeiro lorde do Almirantado!
Pode avaliar o leitor se haviam de desenvolver-se ou n ã o estas tend ê ncias em quem passou a sua mocidade pelas quatro partes do mundo.
O pai, como homem instru í do que era, n ã o podia, de resto, deixar de contribuir para desenvolver esta viva intelig ê ncia com estudos s é rios de hidrografia, de f í sica e de mec â nica, e com alguns elementos de bot â nica, de medicina e astronomia.
Quando faleceu o garboso capit ã o, Samuel Fergusson, com vinte e dois anos de idade, j á havia feito uma viagem à volta do Globo. Alistou-se no Corpo de Engenheiros Bengaleses, onde se distinguiu em muitas ocasi õ es; por é m, a vida de soldado n ã o lhe quadrava. Assim como n ã o aspirava ao comando, tamb é m n ã o gostava de obedecer. Pediu a sua demiss ã o e, ca ç ando e caminhando, dirigiu-se para o Norte da pen í nsula indica, atravessando-a desde Calcut á at é Surate. Um simples passeio de amador!
De Surate sabemos que passou à Austr á lia e fez parte, em 1845, da expedi çã

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