Ilusões Perdidas
337 pages
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Ilusões Perdidas , livre ebook

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Description

Considerada a maior obra de Honoré de Balzac, 'Ilusões Perdidas' conta a história de Luciano de Rubempré, jovem promissor que deixa a vida provinciana na pequena Angoulême em busca da glória literária na aristocrática cidade de Paris.

Sujets

Informations

Publié par
Date de parution 11 novembre 2017
Nombre de lectures 2
EAN13 9789897780981
Langue Português

Informations légales : prix de location à la page 0,0007€. Cette information est donnée uniquement à titre indicatif conformément à la législation en vigueur.

Extrait

Honor é de Balzac
ILUS Õ ES PERDIDAS
Índice
 
 
 
Parte 1 — Os Dois Poetas
Parte 2 — Um Grande Homem da Província em Paris
Parte 3 — Eva e David
 
Parte 1 — Os Dois Poetas
 
 
 
Ao tempo em que esta hist ó ria come ç a, ainda o prelo Stanhope e os rolos de dar tinta n ã o funcionavam nas pequenas imprensas da prov í ncia. Mau grado a especialidade que a equipara à tipografia parisiense, Angoul ê me servia-se ainda dos prelos de madeira, aos quais a l í ngua deve a express ã o fazer gemer os prelos, hoje sem raz ã o de ser. A imprensa, atrasada, empregava ainda para dar a tinta nas formas uma bala de couro. A plataforma girante onde se coloca a forma cheia de letras sobre a qual se aplica o papel era ainda de pedra, e justificava o seu nome de m á rmore. As vertiginosas m á quinas de imprimir fizeram a tal ponto esquecer esse aparelho, ao qual devemos, apesar das suas imperfei çõ es, os belos livros dos EIzevier, dos Plantin, dos Aldos e dos Didot, que bom é mencionar os velhos utens í lios a que Jer ó nimo Nicolau S é chard consagrava supersticiosa afei çã o, tanto mais que eles desempenham seu papel nesta grande historieta.
O S é chard era um antigo impressor, desses a quem os oper á rios incumbidos de juntar as letras chamam ursos, na sua g í ria tipogr á fica: um batedor, enfim. O movimento de vai-vem, semelhante ao de um urso engaiolado, com que os batedores andam da mesa da tinta para o prelo e do prelo para a mesa da tinta, foi que naturalmente lhe deu a alcunha. Em compensa çã o, os ursos puseram aos compositores a alcunha de macacos, por causa do continuado exerc í cio que eles fazem para apanhar as letras, dos cento e cinquenta e dois caixotins onde elas se cont ê m. Na desastrosa era de 1793, o S é chard, ent ã o com cinquenta anos, estava casado. A idade e o casamento fizeram-no escapar ao grande recrutamento que arrebanhou quase todos os oper á rios para o ex é rcito. O velho batedor ficou sozinho na imprensa, cujo dono morrera havia pouco, deixando vi ú va sem filhos. O estabelecimento pareceu em risco de imediata destrui çã o; o solit á rio urso era incapaz de se transformar em macaco, porque, na sua qualidade genu í na de impressor, nunca soube ler nem escrever. Sem olhar à s suas incapacidades, um representante do povo, mortinho por espalhar os lindos decretos da Conven çã o, investiu o batedor no alvar á de mestre impressor, e p ô s-lhe a tipografia por conta da na çã o. Tendo aceitado o perigoso alvar á , o cidad ã o S é chard indemnizou a vi ú va do patr ã o com as economias da mulher, pagando o material da imprensa por metade do seu valor. Mas ainda isso n ã o era tudo. Urgia imprimir sem falta nem demora os decretos republicanos. Nessa dif í cil conjuntura, Jer ó nimo Nicolau S é chard teve a fortuna de encontrar um fidalgo marselh ê s que n ã o queria emigrar para n ã o perder os bens, nem aparecer para n ã o perder a cabe ç a, e que s ó em qualquer trabalho podia ganhar o p ã o de cada dia. O senhor conde de Maucombe enfiou pois a humilde blusa de diretor de tipografia da prov í ncia, comp ô s, fez a revis ã o e emendou os decretos que promulgavam a pena de morte contra os cidad ã os que dessem guarida a fidalgos; o urso feito patr ã o imprimiu-os e mandou-os afixar, ingenuamente; e ambos escaparam a s ã o e salvo. Em 1795, passado o levante do Terror, teve Nicolau S é chard de procurar outro diretor. Um padre, que mais tarde a Restaura çã o fez bispo e que ao tempo se negava a prestar juramento, foi quem substituiu o conde de Maucombe at é ao dia em que primeiro c ô nsul estabeleceu a religi ã o cat ó lica. O conde e o bispo encontraram-se ao diante no mesmo banco da c â mara dos pares. Em 1802, Jer ó nimo Nicolau S é chard sabia tanto de leitura e escrita como em 1793, mas tinha boa bagalho ç a para poder pagar a um diretor. O batedor t ã o descuidoso do futuro fizera-se um c ã o para os seus macacos e para os seus ursos. Onde a pobreza cessa, principia a sovinice. No dia em que o impressor lobrigou a possibilidade de fazer fortuna, o interesse desenvolveu-lhe a intelig ê ncia material do seu of í cio, mas intelig ê ncia á vida, penetrante, desconfiada. N ã o havia teoria que lhe desbancasse a pr á tica. Por fim, j á avaliava num relance o pre ç o duma p á gina ou duma folha, conforme o tipo. Demonstrava aos fregueses ignorantes que as letras grandes ficavam mais caras, porque custavam mais a manejar; quando se tratava de letras pequenas, dizia que eram mais melindrosas. Como a composi çã o era a parte tipogr á fica, de que nada percebia, tinha tanto medo de se enganar, que nunca fazia sen ã o contratos le ó nicos. Se os compositores trabalhavam de jornal, nunca lhes tirava os olhos de cima; se tinha conhecimento de algum fabricante em dificuldades, comprava-lhe o papel ao desbarato e armazenava-o. Nessa é poca, portanto, j á ele era senhorio da casa em que a imprensa estava estabelecida desde tempos imemoriais. N ã o houve fortuna que lhe n ã o sucedesse: enviuvou e ficou com um filho s ó . Meteu esse filho nos estudos, n ã o tanto para o educar como para ir procurando sucessor; tratava-o severamente, com a mira em prolongar a dura çã o do poder paternal; de maneira que nos dias feriados, punha-o à caixa dizendo-lhe que aprendesse a ganhar a vida, para um dia recompensar o seu pobre pai, que se desfazia em sacrif í cios por ele. Ao partir o padre, S é chard tomou para diretor um dos seus quatro compositores, aquele que o futuro bispo lhe indicou por mais forte em probidade que em intelig ê ncia. Assim o velhote p ô de esperar que o filho estivesse nos casos de dirigir o estabelecimento, que ent ã o progrediria em m ã os juvenis e h á beis. David S é chard fez no liceu de Angoul ê me os estudos mais brilhantes. Bem que n ã o fosse para um urso, enriquecido sem conhecimentos nem educa çã o, o fazer grande conceito da ci ê ncia, o tio S é chard mandou o filho para Paris estudar a tipografia moderna; mas tantas recomenda çõ es lhe fez para que juntasse dinheirinho numa terra a que ele chamava um Brasil dos oper á rios , declarando-lhe que n ã o contasse com a bolsa paterna, que sem d ú vida via um meio de chegar aos seus fins nessa estada em fonte limpa. Ao mesmo tempo que aprendia o of í cio, David completou em Paris a sua educa çã o. O compositor dos Didot fez-se um s á bio. Em fins de 1819, David S é chard saiu de Paris sem ter gasto nem uma de X ao pai, que o mandava chamar para lhe fazer entrega do neg ó cio. A imprensa de Nicolau S é chard possu í a ao tempo o ú nico jornal de an ú ncios judiciais que havia no distrito, a freguesia do governo civil e do bispado, tr ê s achegas que deviam dar boa fortuna a um rapaz ativo.
Precisamente nessa é poca, os irm ã os Cointet, fabricantes de papel, compraram o outro alvar á de impressor em Angoul ê me, que at é ai o velho S é chard tivera artes para trazer assolapado, merc ê das crises militares que sob o regime imperial atabafaram todo o movimento industrial; era por isso que ele o n ã o tinha comprado primeiro, e a sua parcim ó nia foi uma causa de ru í na para a velha imprensa. Constando-lhe essa not í cia, o velho S é chard disse consigo, muito satisfeito, que o desafio entre o seu estabelecimento e os Cointet seria aguentado pelo filho, e n ã o por ele.
— Comigo — pensou ele — ficava eu por baixo; mas um rapaz com pr á tica dos Didot h á de por for ç a vencer.
O septuagen á rio suspirava pelo momento em que pudesse viver a seu gosto. Se tinha poucos conhecimentos tipogr á ficos, ao menos passava por uma barra numa arte que os oper á rios comicamente denominavam carraspanografia, arte bem estimada pelo divino autor do Pantagruel, mas cuja cultura, perseguida pelas chamadas sociedades de temperan ç a, cada vez est á mais decadente. Jer ó nimo Nicolau S é chard era uma esponja. A mulher tinha-lhe durante muito tempo contido em justos limites essa queda para o sumo da uva, gosto t ã o natural nos ursos, que at é o senhor de Chateaubriand o notou nos verdadeiros ursos da Am é rica. Mas os fil ó sofos t ê m observado que os h á bitos da idade mo ç a voltam com for ç a na velhice do homem. S é chard confirmava essa lei moral: quanto mais velho, mais borrach ã o. O v í cio deixou-lhe na fisionomia ursina sinais que a tornavam original; o nariz tomara-lhe o desenvolvimento e o feitio de um A de caixa alta, corpo 36; as duas faces, riscadas de veias, semelhavam essas folhas de parra cheias de borbulhagem roxa, purpurina, e n ã o raro estrelada; era como que uma t ú bara monstruosa, embrulhada nos p â mpanos outoni ç os. Metidos por baixo de duas fornidas sobrancelhas semelhantes a duas moitas aljofradas de neve, os seus olhinhos castanhos, em que piscava a manha de uma avareza que tudo matava nele, inclusivamente a paternidade, conservavam a finura que tinham, at é nas maiores bebedeiras. A cabe ç a calva, mas circundada de cabelos grisalhos que ainda se encaracolavam, fazia lembrar os franciscanos dos Contos de La Fontaine. Era atarr

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