Crime e Castigo
294 pages
Português

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Description

Datado de 1866, este é o primeiro dos grandes romances que Dostoiévski escreveu já em plena maturidade literária, sendo provavelmente a mais bem conhecida de todas as suas obras. Recriando um estranho e doloroso mundo em torno da figura do estudante Raskólnikov, perturbado pelas privações e duras condições de vida, é uma das obras por excelência fundadoras da modernidade. Pelo inexcedível alcance e profundidade psicológica, sobretudo no que implica a exploração das motivações não conscientes e a aparente irracionalidade nos comportamentos das personagens, este autor russo tornou-se uma referência universal na literatura, sem perda de continuidade até aos nossos dias.

Sujets

Informations

Publié par
Date de parution 11 novembre 2017
Nombre de lectures 12
EAN13 9789897780837
Langue Português

Informations légales : prix de location à la page 0,0007€. Cette information est donnée uniquement à titre indicatif conformément à la législation en vigueur.

Extrait

Fi ó dor Dostoi é vski
CRIME E CASTIGO
Índice
 
 
 
Parte 1
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Parte 2
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Parte 3
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Parte 4
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Parte 5
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Parte 6
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Epílogo
Capítulo 1
Capítulo 2
 
Parte 1
Capítulo 1
 
 
 
Numa magn í fica noite de julho, excessivamente quente, um rapaz saiu do quarto que ocupava nas á guas-furtadas de um grande pr é dio de cinco andares, situado no bairro S..., e, com passos lentos e um ar irresoluto, tomou o caminho da ponte de K...
Teve a boa sorte de n ã o encontrar na escada a senhoria, que habitava o andar inferior. A cozinha, cuja porta estava quase sempre aberta, dava para a escada. Quando sa í a, tentava subtrair-se aos olhares da hospedeira, o que o fazia experimentar a forte sensa çã o de quem se evade. Devia-lhe uma soma importante e por isso receava encontr á -la.
Nunca a pobre mulher o havia amea ç ado ou ultrajado; pelo contr á rio. Por é m havia algum tempo que ele se achava num estado de excita çã o nervosa, vizinho da hipocondria. Isolando-se e concentrando-se, chegara ao ponto de n ã o s ó evitar encontrar-se com a hospedeira, mas at é mesmo a deixar de manter rela çõ es com os seus semelhantes. Noutros tempos a pobreza parecia esmag á -lo; todavia, nestes ú ltimos dias, chegara a ser-lhe insens í vel. Renunciara em absoluto à s suas ocupa çõ es. De resto, pouco lhe importava a hospedeira e as disposi çõ es que ela pudesse adotar contra ele. Ser surpreendido na escada, ouvir reclama çõ es, suportar recrimina çõ es, ali á s pouco prov á veis, ter de responder com evasivas, ou antes, desculpas de mau pagador, mentiras... — isso n ã o! O melhor era esgueirar-se sem ser visto, deslizar como um gato medroso.
Desta vez, por é m, quando chegou à rua, pareceu-lhe estranho o receio que tivera de encontrar a credora.
«É inacredit á vel que, quando tenho em mente um projeto t ã o arriscado, me preocupe com tais ninharias » , pensou ele com um sorriso singular. « Sim! o homem tem tudo entre as m ã os e se tudo deixa escapar, é porque tem medo... É axiom á tico! N ã o se me dava saber de que é que temos mais medo. Estou em acreditar que aquilo que mais receamos é o que nos faz sair dos nossos h á bitos. Todavia, com tanto divagar, é que nada fa ç o. É verdade que poderia alegar esta outra raz ã o: porque nada fa ç o é que divago tanto. H á um m ê s que me habituei a falar s ó , encolhido a um canto durante dias inteiros, preocupado com disparates. Vejamos no que me vou meter! Serei capaz disto? Ser á isto s é rio? N ã o, isto n ã o é s é rio. S ã o ninharias que preocupam o meu esp í rito, ou antes, simples fantasias. »
O calor era asfixiante. A multid ã o, a vista dos montes de cal, dos tijolos, da andaimaria, e esse mau cheiro especial, t ã o conhecido do habitante de S. Petersburgo que n ã o pode alugar uma casa de campo no ver ã o, tudo contribu í a para irritar mais e mais os nervos j á excitados do rapaz. O cheiro pestilencial das tabernas, muito frequentes nesta parte da cidade, e os b ê bados que a cada momento se encontravam, conquanto fosse um dia de trabalho, completavam o quadro, dando-lhe um horr í vel colorido. As delicadas fei çõ es do mancebo refletiram, por momentos, uma impress ã o de profunda n á usea. A prop ó sito deve-se dizer que n ã o era fisicamente destitu í do: de estatura mais que regular, franzino, elegante, tinha uns bonitos olhos escuros e uns cabelos castanhos. Pouco a pouco foi caindo numa melancolia profunda, numa esp é cie de torpor intelectual. Caminhava alheio a tudo, ou melhor dizendo, sem querer atender a coisa alguma. De longe em longe, apenas, murmurava consigo umas ligeiras palavras, porque, como ele pr ó prio reconhecia, havia algum tempo que tinha a mania de falar s ó . Neste momento notava que por vezes as ideias se lhe confundiam e era grande o seu estado de fraqueza: havia dois dias, quase se podia dizer, que n ã o comia.
Qualquer outro se envergonharia de exibir em pleno dia semelhantes andrajos, t ã o mal vestido estava. No entanto, o bairro permitia qualquer vestu á rio. Nos arredores do Mercado do Feno, nas ruas de S. Petersburgo onde vive o operariado, o vestu á rio mais singular n ã o causa a menor surpresa. Por é m acumulava-se na alma do infeliz rapaz um tal desprezo por tudo que, apesar do seu pudor por vezes muit í ssimo ing é nuo, n ã o se envergonhava de passear pelas ruas os seus farrapos.
O caso seria diferente se encontrasse pessoas conhecidas, ou alguns dos seus antigos companheiros cuja aproxima çã o em geral evitava. De repente parou, vendo-se alvo da aten çã o dos transeuntes por estas palavras pronunciadas em voz ir ó nica: « Vejam, um chapeleiro alem ã o! » Eram proferidas por um b ê bado que era levado, n ã o se sabe para onde, nem para qu ê , numa carro ç a.
Com um gesto nervoso tirou o chap é u e p ô s-se a mir á -lo. Era um feltro de copa alta, comprado na casa de Zimerman, muit í ssimo usado, de cor esverdeada, quase sem abas, e com in ú meras n ó doas e buracos. Era um chap é u deveras miser á vel. No entanto, longe de se sentir ofendido no seu brio, o possuidor de t ã o estranho objeto sentia-se mais inquieto do que humilhado.
« Isto é realmente o pior! » , murmurou ele. « Esta mis é ria! E qualquer coisa pode deitar a perder o neg ó cio. De facto este chap é u d á muito na vista, est á mesmo um horror! Ningu é m traz uma coisa destas na cabe ç a... E ent ã o este, que se torna reparado a quil ó metros de dist â ncia! Lembrar-se- ã o, recordar-se- ã o dele... pode ser um ind í cio... É indispens á vel que desperte o menos poss í vel a aten çã o. As coisas mais insignificantes t ê m à s vezes grande import â ncia e é regra geral por elas que a gente se perde... »
N ã o ia para muito longe. Conhecia muito bem a dist â ncia entre a sua morada e o local para onde se dirigia: setecentos e trinta passos, nem mais, nem menos um. Contara-os quando o projeto tinha ainda no seu esp í rito a forma vaga de um sonho. Nessa é poca nunca supusera que tal ideia viesse a tomar corpo e a fixar-se. Limitara-se a acariciar no seu í ntimo uma utopia duplamente pavorosa e irresist í vel. Todavia, passado um m ê s, come ç ara a ver as coisas sob outro aspeto. Conquanto nos seus solil ó quios se lamentasse da sua pouca energia e irresolu çã o, tinha-se, no entanto, habituado a pouco e pouco, mau grado seu, a julgar poss í vel a realiza çã o dessa sonhada quimera, a despeito de n ã o confiar ainda muito em si. Ia agora precisamente repetir o ensaio do seu projeto e, a cada passo que dava, sentia-se mais e mais dominado por uma forte agita çã o.
Com o cora çã o oprimido e os membros muito agitados por um tremor nervoso, aproximou-se de um enorme casar ã o, que olhava de um lado para o canal e do outro para a rua... Esta grande casa era dividida em in ú meros compartimentos, habitados por criaturas de todas as categorias: alfaiates, serralheiros, engenheiros alem ã es de v á rias esp é cies, mulheres de vida f á cil, pequenos empregados... Uma grande multid ã o entrava e sa í a pelas duas portas. Tr ê s ou quatro porteiros faziam o servi ç o. Com grande satisfa çã o n ã o encontrou nenhum deles. Transposto o limiar, galgou a escada da direita, que conhecia bem, bastante estreita e de uma obscuridade que n ã o deixava de lhe agradar. Ali n ã o havia a recear olhares indiscretos.
« Se tenho agora tanto medo, o que ser á quando for a valer » , pensou ele, ao chegar ao quarto andar. A í teve que parar. Alguns carregadores faziam a mudan ç a da mob í lia de uma das divis õ es ocupadas — e o nosso homem sabia-o — por um alem ã o e sua fam í lia. « Com a partida deste, a velha fica sendo a ú nica moradora do andar. Vim em boa ocasi ã o » . E puxou o cord ã o da campainha, que soou gravemente, como se fosse de cobre. Nestas casas as campainhas s ã o em geral de lata.
Este pormenor esquecera-lhe. O som especial da campainha lembrou-lhe o que quer que fosse, porque teve um estremecimento: s

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