Gente Pobre
168 pages
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Gente Pobre , livre ebook

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Description

«Gente Pobre» marca a estreia de Dostoiévski na literatura, em 1846, e estabelece desde logo os fundamentos para uma abordagem social, psicológica e profundamente corrosiva da compreensão humana. A análise pormenorizada das personagens e suas convicções, enquadradas por um pano de fundo de crítica subtil, ganha em Dostoiévski uma força e um poder imagéticos que extravasam as páginas dos seus livros. Em «Gente Pobre», o autor transporta-nos para um dos bairros mais miseráveis de São Petersburgo, onde um funcionário de meia-idade troca correspondência com uma jovem costureira. Demasiado pobres para se casarem, o seu amor passa todo e apenas por cartas mantidas ao longo do tempo, que refletem a cruel realidade do dia a dia passado num ambiente de extrema precariedade.

Sujets

Informations

Publié par
Date de parution 11 novembre 2017
Nombre de lectures 1
EAN13 9789897780943
Langue Português

Informations légales : prix de location à la page 0,0007€. Cette information est donnée uniquement à titre indicatif conformément à la législation en vigueur.

Extrait

Fi ó dor Dostoi é vski
GENTE POBRE
 
Í ndice
 
 
 
8 de Abril
8 de Abril
8 de Abril
9 de Abril
12 de Abril
25 de Abril
20 de Maio
1 de Junho
11 de Junho
12 de Junho
20 de Junho
21 de Junho
22 de Junho
25 de Junho
26 de Junho
27 de Junho
28 de Junho
28 de Junho
1 de Julho
1 de Julho
7 de Julho
8 de Julho
27 de Julho
28 de Julho
28 de Julho
29 de Julho
1 de Agosto
2 de Agosto
3 de Agosto
4 de Agosto
4 de Agosto
5 de Agosto
5 de Agosto
11 de Agosto
13 de Agosto
14 de Agosto
19 de Agosto
21 de Agosto
3 de Setembro
5 de Setembro
9 de Setembro
10 de Setembro
11 de Setembro
15 de Setembro
18 de Setembro
19 de Setembro
23 de Setembro
23 de Setembro
27 de Setembro
27 de Setembro
28 de Setembro
28 de Setembro
28 de Setembro
30 de Setembro
30 de Setembro
 
8 de Abril
 
 
 
Minha estimada B á rbara Alexeievna:
 
Ontem fui feliz, excessivamente feliz, como n ã o se pode s ê -lo mais! At é que enfim, uma vez na vida, voc ê , sempre t ã o inacess í vel, satisfez os meus desejos! Eram cerca de oito horas, j á quase noite, quando acordei da soneca que costumo dormir todos os dias, depois do trabalho. Acendi a luz e tinha j á os pap é is em ordem, faltando-me apenas agu ç ar a pena, quando, de s ú bito, levantei, casualmente, os olhos e deparou-se-me um espet á culo extraordin á rio, que me fez pular o cora çã o. Decerto adivinhou j á do que se trata, compreendeu o motivo do meu alvoro ç o! É que vi uma pontinha da cortina da sua janela presa a um vaso de balsamina, exatamente como j á por v á rias vezes lhe lembrei fazer. Pareceu-me vislumbrar o seu querido rosto, atrav é s da janela; que me contemplava da penumbra do seu quarto, e que tamb é m pensava em mim. E que pena eu tive de n ã o poder distinguir bem essa face aveludada, minha querida! Dantes eu via bem, mas os anos n ã o perdoam, meu amor! Agora, por vezes, como que bailam na minha frente os objetos. Se trabalhar um bocadito de noite, se escrever qualquer coisa, no dia seguinte, quando me levanto, tenho os olhos vermelhos e chorosos; at é sinto vergonha de aparecer assim diante de estranhos. Mas, em esp í rito, eu via perfeitamente o seu am á vel e afetuoso sorriso, e no meu cora çã o sentia o mesmo que quando a beijei pela primeira vez, querida B á rbara. Lembra-se, meu anjo? Parece-me estar a v ê -la, neste momento, amea ç ar-me com o dedo. N ã o ser á verdade, minha mazinha? Na pr ó xima carta, quero que me diga pormenorizadamente se acertei nas minhas conjeturas.
Mas que me diz da minha ideia acerca da cortina, B á rbara? Magnifica, n ã o lhe parece? Sempre que me sente para escrever, ou me deite, ou me levante, poderei assim saber se ainda me traz no pensamento e se lembra de mim, e tamb é m se est á boa e bem-disposta. Quando baixar a cortina, isso querer á dizer que s ã o horas de eu, Makar Alexeievitch, me deitar; se a erguer, significar á que me d á os bons-dias e me pergunta se dormi bem, informando-me ao mesmo tempo de que, gra ç as a Deus, se encontra de sa ú de e muito contente. Como v ê , este engenhoso plano é de grande vantagem e poupa-nos muitas cartas. E fui eu o inventor desta ideia t ã o subtil. Ainda ser á capaz de negar que sou dotado de prodigiosa imagina çã o, B á rbara Alexeievna?
Devo dizer-lhe, querida, que contra o que esperava, dormi a ú ltima noite de um sono, o que deveras me alegra, pois, como sabe, agora moro noutra casa, e quando se muda de cama, geralmente nas primeiras noites dorme-se mal! Mas, pelo que vejo, nem sempre assim acontece. Levantei-me muito cedo, a transbordar de alegria e de amor. Como tudo me parecia belo, à quela hora, meu anjo! Quando abri a janela, o sol resplandecente entrou a jorros no meu quarto, o canto das avezinhas deliciou-me o ouvido e aspirei a atmosfera saturada de perfumes de primavera. Numa palavra, toda a Natureza parecia despertar para nova vida. Tudo se mostrava de harmonia com a minha boa disposi çã o, belo e primaveril. Al é m disso, imaginava que o dia me correria admiravelmente. Mas todos os meus pensamentos se dirigiam para si. « Sem d ú vida — pensei — , todos aqueles que levam uma vida de trabalhos e sofrimentos podem, com raz ã o, invejar as avezinhas do c é u, que n ã o conhecem nada disto! » E todos os meus pensamentos eram mais ou menos neste teor. Quer dizer: ocupei o esp í rito com compara çõ es fant á sticas.
Tenho aqui um livrito, onde estes pensamentos se encontram amplamente expressos. Diz, por exemplo, que h á muitas, mesmo muitas esp é cies de sonhos, querida B á rbara. Mal chega a primavera, os nossos pensamentos tornam-se agrad á veis, espirituais e fant á sticos — como a bela esta çã o — e os sonhos s ã o ternos, tudo é calor e rosas. É por isso que eu escrevi estas coisas. Se bem que, na sua maior parte, fui busc á -las ao livro de que lhe falei. Nele o autor exprime, mas em verso, este mesmo desejo.
 
Oh, quem me dera ser p á ssaro, ave de rapina ...
 
Tem ainda muitos outros pensamentos, por é m deixemos isso...
Mas diga-me, meu amor: aonde foi esta manh ã ? Muito cedo, antes de eu sair para o trabalho, j á a B á rbara sa í ra do quarto e atravessava o p á tio, toda lampeira, tal como o pardal na primavera, quando deixa o ninho. Que grande alegria senti ao v ê -la! Ah, querida B á rbara, querida B á rbara, n ã o se deixe dominar pela tristeza; as l á grimas nada remedeiam, acredite. Sei-o por experi ê ncia pr ó pria. Agora leva uma vida mais alegre e distra í da, por isso parece melhor de sa ú de. Ah! J á me esquecia: e a nossa boa F é dora? Que cora çã o de ouro! Manda-me dizer que agora vive consigo e que se d ã o muito bem. Bem sei que a pobre é um pouco resmungona, mas n ã o se importe, B á rbara. Ao fim e ao cabo, é uma excelente alma, Deus seja louvado!
J á me referi, nas minhas cartas, à nossa Teresa; é tamb é m uma boa criatura e muito fiel. O que passei por causa da nossa correspond ê ncia! Vi-me e desejei-me para descobrir forma de a fazer chegar ao seu destino. Felizmente, Deus mandou-nos a Teresa. É uma bondosa mo ç a, honesta e de bom g é nio, mas a nossa patroa n ã o tem piedade dela, tratando-a como uma escrava. A pobre trabalha de mais.
Mas a que esp é cie de alojamento vim eu dar. B á rbara Alexeievna? Que ideia faz do meu quarto? Como sabe, dantes eu vivia completamente s ó , t ã o s ó que o simples esvoa ç ar de uma mosca n ã o me passava despercebido. Todavia, agora, tudo é barulho e bul í cio à minha volta. Vou descrever-lhe a planta da casa em que vivo. Imagine um comprido corredor, quase escuro e muito imundo. À direita fica uma parede de resguardo e, à esquerda, h á uma s é rie de portas, correspondentes cada uma delas a um quarto, que ostenta um n ú mero, como nos hot é is. Estes compartimentos s ã o habitados por diferentes pessoas por uma, duas ou tr ê s, conforme os casos. O que, por é m aqui, n ã o existe é ordem. Pode dizer-se que o edif í cio é uma perfeita Arca de No é . N ã o obstante, a maior parte dos inquilinos s ã o boas pessoas, educadas e at é cultas. Entre outros, mora aqui um funcion á rio muito erudito, que tanto pode falar de Homero como de qualquer autor; numa palavra, conhece de tudo, pois é dotado de verdadeiro talento. Vivem tamb é m aqui dois oficiais reformados que passam o tempo a jogar as cartas, um marinheiro e um professor de Ingl ê s. Mas, para a distrair um pouco, na pr ó xima carta vou descrever-lhe estas pessoas, contando-lhe pormenorizadamente a vida de cada uma.
Quanto à nossa patroa, é uma velhota baixinha e muito suja, que passa o dia a passear de um lado para outro, sempre de chinelos e de bata, insultando constantemente a pobre Teresa.
Eu moro na cozinha, ou, melhor dizendo, num pequeno quarto que faz parte da cozinha. Esta é muito espa ç osa, muito limpa, com muita luz; constitui um espl ê ndido compartimento com tr ê s janelas. Paralelo à parede exterior, existe um tabique que a divide, formando assim uma esp é cie de recantozinho, como que um quarto supranumer á rio, que é o meu. Tudo neste quarto é confort á vel e c ó modo, e at é disponho de uma janela. É este o meu cantinho. N ã o v á , por é m, pensar, minha querida, que nas minhas palavras h á qualquer inten çã o reservada. Viver na cozinha significa simplesmente que habito por detr á s da parede divis ó ria existente neste compartimento, quase sem companhia, e que passo o tempo em paz, ocupado com ninharias.
O mobili á rio do meu aposento comp õ e-se de uma cama, uma mesa, uma c ó moda e duas cadeiras — duas, note bem! Tamb é m pendurei fia parede uma imagem pi

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