138
pages
Português
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2017
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Ebook
2017
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Publié par
Date de parution
11 novembre 2017
Nombre de lectures
5
EAN13
9789897781049
Langue
Português
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11 novembre 2017
Nombre de lectures
5
EAN13
9789897781049
Langue
Português
J ú lio Verne
DA TERRA À LUA
Índice
Capítulo 1 — O Gun-Club
Capítulo 2 — Comunicação do Presidente Barbicane
Capítulo 3 — Efeitos da Comunicação Barbicane
Capítulo 4 — Resposta do Observatório de Cambridge
Capítulo 5 — O Romance da Lua
Capítulo 6 — O Que Não é Possível Ignorar e o Que Já Não é Permitido Acreditar nos Estados Unidos
Capítulo 7 — O Hino da Bala
Capítulo 8 — História do Canhão
Capítulo 9 — Questão da Pólvora
Capítulo 10 — Um Inimigo por Vinte e Cinco Milhões de Amigos
Capítulo 11 — A Florida e o Texas
Capítulo 12 — «Urbi et Orbi»
Capítulo 13 — Stone’s-Hill
Capítulo 14 — Alvião e Trolha
Capítulo 15 — A Festa da Fundição
Capítulo 16 — A Columbíada
Capítulo 17 — Um Despacho Telegráfico
Capítulo 18 — O Passageiro do «Atlanta»
Capítulo 19 — Um «Meeting»
Capítulo 20 — Ataque e Réplica
Capítulo 21 — Como um Francês Resolve uma Pendência de Honra
Capítulo 22 — O Novo Cidadão dos Estados Unidos
Capítulo 23 — O Vagão-Projétil
Capítulo 24 — O Telescópio das Montanhas Rochosas
Capítulo 25 — Últimos Pormenores
Capítulo 26 — Fogo!
Capítulo 27 — Céu Encoberto
Capítulo 28 — Um Astro Novo
Capítulo 1 — O Gun-Club
Durante a guerra federal dos Estados Unidos fundou-se na cidade de Baltimore, mesmo no centro de Maryland, um novo clube, que veio a desfrutar de grande nomeada.
É notória a energia com que se desenvolveram os instintos militares por entre aquela população de armadores, de negociantes e de maquinistas. Insignificantes mercadores saltaram por cima do balcão e acharam-se de improviso transformados em capitães, em coronéis e até em generais, sem terem passado pelas escolas de especialização de West-Point. Em curto espaço de tempo foram na arte da guerra dignos rivais dos seus colegas do velho continente, e, à imitação destes, alcançaram, à força de prodigalizar balas, milhões e homens, brilhantes vitórias.
Mas no que os Americanos excederam singularmente os Europeus foi na ci ê ncia da bal í stica: n ã o porque as armas americanas demonstrassem mais elevado grau de perfei çã o, mas porque apresentaram dimens õ es desusadas, tendo, por consequ ê ncia, alcances at é ent ã o nunca atingidos.
Pelo que diz respeito a tiros rasantes, imergentes ou em cheio, a fogos de escarpa, de enfiada ou de rev é s, j á n ã o t ê m, Ingleses, Franceses ou Prussianos, coisa alguma que aprender; mas os canh õ es, obuses e morteiros europeus n ã o passam de simples pistolas de algibeira comparados com os formid á veis maquinismos b é licos da artilharia americana.
N ã o deve causar espanto o que deixamos dito. Os Ianques, que s ã o os primeiros mec â nicos do mundo, nascem engenheiros como qualquer italiano nasce m ú sico, ou qualquer alem ã o fil ó sofo transcendental; portanto, nada mais natural do que v ê -los demonstrar na aplica çã o à ci ê ncia bal í stica o audacioso engenho de que s ã o dotados.
Assim se explica a exist ê ncia destes gigantescos canh õ es, que, se por um lado se mostram muito menos ú teis que as m á quinas de coser, n ã o deixam de ser, por outro lado, menos apreciados e admirados. Os maravilhosos inventos, neste g é nero, de Parrott, de Dahlgreen e de Rodman s ã o bem conhecidos; os Armstrong, os Palisser, os Treuille de Beaulieu n ã o tiveram outro rem é dio que n ã o fosse curvar-se, vencidos pelos seus rivais de al é m-mar.
Tudo isto deu causa a que, durante a terr í vel luta entre os partid á rios do Norte e os do Sul, ocupassem os artilheiros em toda a parte o primeiro lugar; celebravam-lhes os jornais da Uni ã o os inventos com entusiasmo, e, sem excetuar o mais insignificante dos lojistas ou o mais ing é nuo dos boobies , todos quebravam a cabe ç a dia e noite a calcular trajet ó rias imposs í veis.
Ora, quando a uma cabe ç a de americano acode uma ideia, busca logo o seu possuidor segundo americano que a aceite; chegam a tr ê s, elegem logo um presidente e dois secret á rios; quatro, nomeiam um arquivista e funciona a mesa; cinco, convocam-se em assembleia geral — e est á constitu í do um clube. Assim sucedeu em Baltimore.
O primeiro que inventou o novo canh ã o associou-se com o primeiro que o fundiu e com o primeiro que o perfurou. Tal foi o primitivo n ú cleo Gun-Club, que um m ê s depois da sua inaugura çã o contava mil oitocentos e trinta e tr ê s s ó cios efetivos e trinta mil quinhentos e setenta e cinco correspondentes.
A todos que queriam fazer parte da associa çã o era imposta uma condi çã o sine qua non: a de ter inventado, ou pelo menos aperfei ç oado, um canh ã o; na falta de canh ã o, uma arma de fogo qualquer. Mas, para dizer a verdade inteira, bem pouca considera çã o gozavam os inventores de rev ó lveres de quinze tiros, de carabinas girantes ou de sabres-pistolas. Em tudo lhes levavam os artilheiros primazia.
A estima de que é credor qualquer s ó cio — disse certo dia um dos mais entendidos oradores do Gun-Club — é proporcional «à s massas » do canh ã o que inventou e est á « na raz ã o direta do quadrado das dist â ncias que os respetivos proj é cteis alcan ç am! »
Com pequena diferen ç a, era a lei de Newton acerca da gravita çã o universal transportada à s coisas do mundo moral.
Fundado o Gun-Club, f á cil é imaginar o que produziria neste g é nero o engenho inventivo dos Americanos. Os maquinismos de guerra assumiram propor çõ es colossais e os proj é cteis foram, al é m dos limites permitidos, partir em dois bocados inofensivos transeuntes. Todos estes inventos deixaram a perder de vista os t í midos instrumentos da artilharia europeia. Forme-se ju í zo pelos seguintes algarismos.
Outrora (bom tempo esse), uma bala de trinta e seis, à dist â ncia de trezentos p é s, varava trinta e seis cavalos apanhados de flanco ou sessenta e oito homens. Era a inf â ncia da arte. Desde essa é poca progrediram muito os proj é cteis. O canh ã o Rodman, que, com uma bala de quinhentos quilogramas, alcan ç ava sete milhas, facilmente poria fora de combate cento e cinquenta cavalos e trezentos homens. Chegou-se at é a discutir no Gun-Club a conveni ê ncia e possibilidade de submeter a uma experi ê ncia solene as qualidades deste canh ã o monstruoso. Por é m, se os cavalos consentiam em tentar a experi ê ncia, infelizmente, a respeito de homens, nem um s ó se ofereceu.
Em todo o caso, o que é fora de d ú vida é que o efeito destas armas era extremamente mort í fero: por cada tiro ca í am os combatentes como espigas sob a foice do ceifeiro. Que valia, comparados com tais proj é cteis, aquela famosa bala que, em Contras, em 1587, p ô s fora de combate vinte e cinco homens, ou aqueloutra que, em Zorndoff, em 1758, matou quarenta infantes? Que valia o canh ã o austr í aco de Kesselsdorf, em 1742, que por cada tiro derrubava setenta inimigos?
Que import â ncia tinham esses surpreendentes fogos de Iena ou de Austerlitz, que decidiram da sorte de uma batalha? Durante a guerra federal da Am é rica viram-se coisas muito mais de pasmar! No combate de Gettysburg, um proj é til c ó nico lan ç ado por um canh ã o raiado feriu cento e setenta e tr ê s confederados, e, na passagem do Potomac, uma bala Rodman mandou para um mundo evidentemente melhor duzentos e quinze partid á rios do Sul. N ã o é menos digno de men çã o um formid á vel morteiro inventado por J.-T. Maston, s ó cio distinto e secret á rio perp é tuo do Gun-Club, cujos efeitos foram sem compara çã o mais mort í feros, visto que, no tiro de experi ê ncia, o primeiro, matou trezentas e trinta e sete pessoas. Verdade é que o morteiro rebentou!
Que havemos de acrescentar a estes n ú meros, j á de per si t ã o eloquentes? Nada. Assim, por certo, ser á admitido sem contradi çã o o seguinte c á lculo, apresentado pelo estat í stico Pitcairn, que, dividindo o n ú mero das v í timas do tiro de bala pelo dos s ó cios do Gun-Club, demonstrou que cada um destes tinha morto, em « m é dia » , dois mil trezentos e setenta e cinco homens e uma fra çã o.
Quem refletir em tais algarismos logo se apercebe de que a ú nica preocupa çã o daquela sociedade cient í fica era a destrui çã o da humanidade com um fim filantr ó pico: o aperfei ç oamento das armas de guerra, consideradas como instrumentos de civiliza çã o. Era uma reuni ã o de anjos exterminadores, e, fora isto, consideradas as melhores pessoas do mundo.
Cumpre-nos a