Imagem, historiografia, memória e tempo
14 pages
Português

Découvre YouScribe en t'inscrivant gratuitement

Je m'inscris

Imagem, historiografia, memória e tempo

-

Découvre YouScribe en t'inscrivant gratuitement

Je m'inscris
Obtenez un accès à la bibliothèque pour le consulter en ligne
En savoir plus
14 pages
Português
Obtenez un accès à la bibliothèque pour le consulter en ligne
En savoir plus

Description

cos da modernidade, e as questões de imagem, memória e tempo vem sendo reavaliadas por historiadores e historiadores da arte, com o objetivo de repensar as suas concepções e os métodos de pesquisa decorrentes.

Sujets

Informations

Publié par
Publié le 01 janvier 2011
Nombre de lectures 19
Langue Português

Extrait

Maria Lúcia Bastos Kern
Doutora em História da Arte pela Universidade de Paris I. Professora do Departamento
de História e do Programa de Pós-graduação em História da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Pesquisadora do CNPq. Autora, entre outros
livros, de Arte argentina: tradição e modernidade. Porto Alegre: EdiPUCRS, 1996.
mlkern@pucrs.br
Imagem, historiografi a,
memória e tempo
DALÍ, Salvador. A persistência da memória. 1931 (detalhe).Imagem, historiografi a, memória e tempo
Maria Lúcia Bastos Kern
resumo abstract
Neste ensaio procura-se revisar os mo- In this essay seeks to revise the models
delos de tempo e memória concebidos of time and memory designed by the
pela historiografi a da arte e apresentar historiography of art and present some
algumas refl exões teóricas, motivadas theoretical reflections, prompted by
pelo recente debate epistemológico e recent epistemological debates and the
pelo esgotamento do caráter unitário e exhaustion of the unitary character of the
totalizante da disciplina, cujas teorias discipline and totalizing theories, which
a condicionaram à sistematização, ba- conditioned the systematization, based
seada numa certa ordem cronológica e on approximate chronological order and
evolutiva de imagens selecionadas, em evolutionary selected images in search of
busca de sentido e de coerência. Nas meaning and coherence. In recent decades,
últimas décadas, têm sido efetuadas there have been revisions made in this fi eld
revisões nesse campo do conheci- of knowledge, concerning the problems
mento, concernentes aos problemas revealed in the paradigms of modernity
evidenciados nos paradigmas cientí- and scientifi c questions of image, memory
fi cos da modernidade, e as questões and time have been reviewed by historians
de imagem, memória e tempo vem and art historians, in order to rethink
sendo reavaliadas por historiadores e their conceptions and research methods
historiadores da arte, com o objetivo involved.
de repensar as suas concepções e os
métodos de pesquisa decorrentes.
palavras-chave: historiografi a da arte; keywords: historiography of art; time;
tempo; memória. memory.

Nas últimas décadas, estão sendo efetuadas revisões nesse campo do
conhecimento, concernentes aos problemas evidenciados nos paradigmas
científi cos da modernidade e as questões de memória e tempo têm sido
reavaliadas por historiadores e historiadores da arte, com o objetivo de
1repensar os métodos de pesquisa decorrentes.
1 Esse ensaio parte de questões Interrogar e refl etir a respeito dos modelos de tempo representa
tratadas em Historiografi a da
atravessar a espessura de distintas concepções de memória. O pensamento arte face às mudanças de pa-
radigmas: memória e tempo, relativo ao tempo no Ocidente tem origem comum na visão judaico-cristã,
publicado nos Anais do XXIX teorizada por Santo Agostinho, que em A cidade de Deus a delimita como
Colóquio do Comitê Brasileiro de
linear e fi nalista do devir humano. Essa visão é concebida de forma unitária História da Arte, Vitória: UFES,
2009, p. 87-97. e cíclica, direcionada ao progresso pela vontade divina. O homem ao ser
10 ArtCultura, Uberlândia, v. 12, n. 21, p. 9-21, jul.-dez. 2010considerado como imagem e semelhança a Deus constrói o seu destino,
na busca de salvação, sendo que a queda não invalida a redenção futura.
Essa acepção permanece até o século XVIII, como história teológica, lado
a lado, com a história dos homens que emerge no Renascimento. Ela se
seculariza e, segundo Reinhart Koselleck, na noção de “horizontes de
expectativas”, alicerçada em “campos de experiência”, que possibilitam
ao presente histórico os permanentes pontos de encontros da recordação
2e da esperança. Essa visão de tempo permeia os modelos historiográfi cos
da arte no mundo moderno.
Modernidade, memória e o tempo cíclico
O primeiro estudo historiográfi co signifi cativo é a Vida dos artistas
(1550), de Giorgio Vasari (1511-1574), em que relata a biografi a de Cimabue
aos célebres artistas do Renascimento, englobando três séculos de criação
artística. O autor, como artista, conhece em profundidade as atividades
exercidas pelos colegas em diferentes cidades, seus deslocamentos, as
problemáticas relacionadas ao gosto e ao mecenato. O seu conhecimento
deve-se, em parte, aos constantes contatos com os artistas, suas distintas
obras e com as concepções estéticas de seu tempo, fatos que o estimulam
a desenvolver um pensamento teórico, que acrescido por sua erudição e
seu interesse como colecionador de desenhos, colaboram para o empre-
endimento historiográfi co. Ao basear-se na premissa de que o desenho é
mais importante do que a cor, Vasari o utiliza como critério para avaliar o
talento dos artistas e enfatizar a arte fl orentina, sem deixar de considerar
as normativas do classicismo para julgar as suas obras. Como Alberti, ele 2 CATROGA, Fernando. Me-
enfatiza a qualidade não só do desenho, mas também a capacidade de imi- mória, história e historiografia.
Coimbra: Quarteto, 2001, p. 18 tação da natureza, mesmo tendo consciência de que a arte pode suplantá-la.
3 Ver: VASARI, Giorgio. Vie des Para Vasari, o clássico emerge no momento em que os artistas co-
artistes. Paris: Bernard Grasset,
meçam a imitar o antigo, sendo o mesmo explicado pelo estudioso na sua 2007 e THUILLER, Jacques.
Théorie générale de l’histoire de temporalidade histórica, por meio do modelo biológico de crescimento,
l’art. Paris: Odile Jacob, 2003. maturidade e envelhecimento, que se formaliza numa visão de tempo cíclico
Vasari leva quase dez anos
3e que justifi ca os momentos de sua retomada, ou melhor, de seu renascer. investigando e recopilando
dados obtidos em viagens pela Assim, a sua classifi cação cronológica é ordenada a partir da ausência de
Itália. A visão cíclica estrutura-
beleza, própria à arte bizantina, que representa a infância, à consagração se, primeiramente, na infância
da arte, com Cimabue, Gio o soberana de Miguel Ângelo, símbolo da maturidade, do progresso e da
e outros artistas; depois, no perfeição.
fl orescimento e juventude, com
Observa-se que Vasari, através das biografi as, estabelece a compa- Masaccio, Donatello, Ghiberti e
Brunelleschi; para fi nalmente ração entre três épocas, tendo como fi m apresentar distintas concepções
atingir na maturidade a per-
de arte de cada momento, fenômeno que é próprio aos intelectuais do feição, com Giorgione, Ticiano,
Leonardo da Vinci, Rafael e Renascimento, cujo termo é defi nido como negação do passado imediato,
Miguel Ângelo. distante das premissas clássicas, e do presente superior que as adota e as
44 Esse sentimento reaparece na renova. Vasari coleta informações sobre os artistas mortos, exceto Miguel
famosa Querelle des anciens et
Ângelo, que o considera divino. Na sua biografi a, ele o identifi ca como modernes (fi nal do século XVII e
início do século XVIII), entre os gênio por suas obras realizadas e como “Deus que vive da prática dessas
intelectuais que acreditam que artes, isto é, de pintura, escultura e arquitetura, os gênios toscanos são
o presente é qualitativamente
5sempre superiores a qualquer outro na Itália (...).” superior ao passado, certeza
motivada pelas ciências e os O seu objetivo não é fazer uma história científi ca, mas magistra vitae,
seus progressos, em detrimento
ou seja, apresentar a biografi a dos artistas como exemplaridade, daí a do humanismo renascentista.
recorrente consagração dos selecionados mais contemporâneos. Ele intro- 5 VASARI, Giorgio, Vie des ar-
duz na disciplina noções que, posteriormente, em parte a estruturam ao tistes, op. cit. p. 347.
ArtCultura, Uberlândia, v. 12, n. 21, p. 9-21, jul.-dez. 2010 11
t
O Tempo da Imagem6 Cf. BOZAL, Valeriano. (org.). procurar dar um sentido narrativo, baseado na evolução e no progresso,
Historia de las ideas estéticas y de
cuja meta a ser atingida é a perfeição (arte clássica). Essas noções se aliam las teorías artísticas contemporâ-
neas. Madri: Visor, p. 136-137. à sacralização e genialidade dos artistas que atingem os cânones estipula-
7 Cf. CATROGA, Fernando. Os dos pel

  • Univers Univers
  • Ebooks Ebooks
  • Livres audio Livres audio
  • Presse Presse
  • Podcasts Podcasts
  • BD BD
  • Documents Documents