Lugar de memória .... memórias de um lugar: patrimônio imaterial de Igatu, Andaraí, BA.
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Resumo
Igatu é um pequeno distrito do município de Andaraí – BA, com cerca de 400 habitantes, que como a maioria das cidades da Chapada Diamantina, foi construída com a exploração do garimpo. A percepção da memória como leitura do espaço torna-se importante instrumento de investigação em busca de resgatar o patrimônio imaterial da localidade. Visando compreender os estreitos laços entre a memó-ria e o lugar e o processo de construção da vila, a pesquisa utilizou das narrativas orais dos antigos mo-radores da época do garimpo para uma leitura fiel da historia local, buscando analisar o uso do legado cultural como instrumento de suporte para a atividade turística.
Abstract
Igatu is a small district of the municipal district of Andaraí - BA, with about 400 inhabitants, that as most of the cities of Chapada Diamantina, it was built with the exploration of the claim. The perception of the memory as reading of the space becomes important investigation instrument in search of rescuing the immaterial patrimony of the place. Seeking to understand the narrow liaisons between the memory and the place and the process of construction of the villa, the research used of the old inhabi-tants' of the time of the claim narratives orals for a reading faithful of the local history, looking for to analyze the use of the cultural legacy as support instrument for the tourist activity.

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Publié le 01 janvier 2008
Nombre de lectures 46
Langue Português

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Vol. 6 Nº 3 págs. 569-590. 2008

www.pasosonline.org


Lugar de memória .... memórias de um lugar:
1patrimônio imaterial de Igatu, Andaraí, BA.


ii
Cyntia Andrade
(Brasil)


Resumo: Igatu é um pequeno distrito do município de Andaraí – BA, com cerca de 400 habitantes, que
como a maioria das cidades da Chapada Diamantina, foi construída com a exploração do garimpo. A
percepção da memória como leitura do espaço torna-se importante instrumento de investigação em busca
de resgatar o patrimônio imaterial da localidade. Visando compreender os estreitos laços entre a memó-
ria e o lugar e o processo de construção da vila, a pesquisa utilizou das narrativas orais dos antigos mo-
radores da época do garimpo para uma leitura fiel da historia local, buscando analisar o uso do legado
cultural como instrumento de suporte para a atividade turística.

Palavras chave: Memória; Turismo; Historia oral; Legado cultural; Patrimônio imaterial.


Abstract: Igatu is a small district of the municipal district of Andaraí - BA, with about 400 inhabitants,
that as most of the cities of Chapada Diamantina, it was built with the exploration of the claim. The
perception of the memory as reading of the space becomes important investigation instrument in search
of rescuing the immaterial patrimony of the place. Seeking to understand the narrow liaisons between the
memory and the place and the process of construction of the villa, the research used of the old inhabi-
tants' of the time of the claim narratives orals for a reading faithful of the local history, looking for to
analyze the use of the cultural legacy as support instrument for the tourist activity.

Keywords: Memory; Tourism; Oral history; Cultural legacy; Immaterial heritage.


ii Cyntia Andrade. Universidad de Las Palmas de Gran Canária, ES - Doctorado em Turismo Integral, Interculturali-
dad y Desarrollo Sostenible. E-mail: cyntiand@gmail.com / cyntiand@yahoo.com.br
© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695-7121 570 Lugar de Memória .... Memórias de um lugar...

Introdução gar. Gastal (2002: 77) afirma que “conforme
a cidade acumula memórias, em camadas
O espaço, como resultado das relações que, ao somarem-se vão constituindo um
sociais pré-existentes vinculadas às forças perfil único, surge o lugar de memória [...]
econômicas e políticas ora dominantes, onde a comunidade vê partes significativas
deixa marcas impressas na paisagem. Um do seu passado com imensurável valor
testemunho que sedimenta recordações, afetivo”.
registrando informações de tempos passa- Como elo de interpretação do passado, a
dos que contam a história do lugar. memória é a voz e a imagem do acontecido.
A apropriação simbólica do espaço acu- Com base em Le Goff (1996: 423), o conceito
mulada de sentimentos e pertinência, o de memória toma corpo quando ele coloca
particulariza e o transforma em lugar. Nes- que “a memória como propriedade de con-
te contexto, o conceito de lugar se apóia na servar certas informações remete-nos em
reflexão de Tuan (1983: 6) quando diz que: primeiro lugar a um conjunto de informaç-
“o espaço é mais abstrato do que o lugar. O ões psíquicas, graças as quais o homem
que começa como espaço indiferenciado pode atualizar impressões ou informações
transforma-se em lugar à medida que con- passadas, ou que ele representa como pas-
hecemos melhor e o dotamos de valor [...], sadas”. As imagens, configurações e repre-
além disso, se pensarmos no espaço como sentações do tempo vivido ou imaginado
algo que permite movimento, então lugar é pertencem ao campo de memória, poucas
pausa: cada pausa no movimento torna vezes exercitados na reconstrução da histó-
possível que a localização se transforme em ria do lugar. Freire (1997: 45) elucida
lugar”. quando diz que: “A memória, compreende-
O lugar é o redimensionamento do espa- mos melhor, elabora-se a partir da ausên-
ço dotado de sensações, afeição e referên- cia, e com pé fincado no presente, volta-se
cias da experiência vivida ou, como diria para frente. Nesse terreno, as mais aparen-
Carlos (1996: 16) “o lugar guarda em si, não temente insignificantes lembranças são
fora dele, o seu significado e as dimensões artigos de valor, sendo necessário guardá-
do movimento da história em constituição las com cuidado, sabendo do risco que se
enquanto movimento da vida, possível de corre com a perda desse que é o nosso mais
ser apreendido pela memória, através dos valioso e invisível patrimonio”.
sentidos e do corpo”. Da memória dos contos e dos cantos, do
As memórias são importantes registros real e do imaginário, do individual e do
vividos que partem das lembranças e eter- coletivo, renasce o passado. Como nas pa-
nizam lugares como referências e cenários lavras de Nora (1993: 9) que diz que “a
para uma constante visita ao passado, tra- memória se enraíza no concreto, no espaço,
zendo em si, os mais diversos sentimentos no gesto, na imagem, no objeto”. Daí sur-
documentados e aflorados em narrativas, gem os lugares de memória que são verda-
sonhos e percepções. Assim, o lugar de deiros patrimônios culturais, projetados
memória, segundo Nora (1993: 21) “são simbolicamente e podem estar atrelados a
lugares, com efeito, nos três sentidos da um passado vivo que ainda marca presença
palavra, material, simbólico, funcional [...]. e reforça os traços identitários do lugar. É
Mesmo um lugar de aparência puramente na pertinência das palavras de Gastal
material, como um depósito de arquivos, só (2002: 77) que repousa a lucidez, onde: “as
é lugar de memória se sua imaginação o diferentes memórias estão presentes no
investe de uma aura simbólica”. São luga- tecido urbano, transformando espaços em
res que estendem uma história regada de lugares únicos e com forte apelo afetivo
cumplicidade, significações, afetividade, para quem neles vive ou para quem os visi-
pertencimento, ou simplesmente de alma. ta. Lugares que não apenas tem memória,
A memória está estratificada no lugar. mas que para grupos significativos da so-
As histórias contadas, tempo a tempo, estão ciedade, transformam-se em verdadeiros
impregnadas no meio, sedimentadas na lugares de memoria” (grifos do autor).
saudade e a procura de registros e sinais da Os lugares de memória e as memórias
ausência que descrevem a memória do lu- do lugar se conjugam em busca de
PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 6(3). 2008 ISSN 1695-7121

Cyntia Andrade 571

instrumentos de reforço da identidade e da importante destino turístico e a necessida-
singularidade local. A população se consti- de de manter a identidade garimpeira, o
tui a mais importante ferramenta já que é respeito ao patrimônio ambiental e a
depositaria de informações, registros êmi- memória local, torna-se vital para a sobre-
cos e sentimentos afetivos, resultado de vivência salutar entre o ambiente e a popu-
uma relação com base na topofilia. lação envolvida.
Distrito do município de Andaraí, na Em busca de construir um mapa
Chapada Diamantina -BA (Figura 1), Igatu representativo da memória local, com os
uma pequena vila de clima tropical semi- lugares de memória e as memórias do lugar
úmido e temperatura media de 22º C, é o por meio da percepção da memória,
que se pode chamar de lugar agradável, narrativa oral, imagem e representação do
cercada não apenas por suas características espaço vivido, foram adotado como
geográficas, terrenos irregulares, mas por instrumento metodológico entrevistas,
paisagens que despertam o imaginário relatos e depoimentos dos moradores locais
2popular. Memória e paisagem se comuni- nativos, em sua grande maioria
cam por meio do olhar, resgatados por lem- garimpeiros, resultando em uma tentativa
branças de tempos vividos e construídos na de recuperação da memória oral, forte
paisagem local. Em Igatu, a memória dos instrumento de afirmação da identidade
tempos de construção e soerguimento da local. E é por meio da percepção da memó-
vila em torno da extração de diamantes ria que o passado se torna presente na ora-
está confinada aos po

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