O triângulo Madeira/Achém/Macau. Um projecto transoceânico de comércio de ópio (1808-1816) - article ; n°1 ; vol.56, pg 43-70
29 pages
Português

Découvre YouScribe en t'inscrivant gratuitement

Je m'inscris

O triângulo Madeira/Achém/Macau. Um projecto transoceânico de comércio de ópio (1808-1816) - article ; n°1 ; vol.56, pg 43-70

-

Découvre YouScribe en t'inscrivant gratuitement

Je m'inscris
Obtenez un accès à la bibliothèque pour le consulter en ligne
En savoir plus
29 pages
Português
Obtenez un accès à la bibliothèque pour le consulter en ligne
En savoir plus

Description

Archipel - Année 1998 - Volume 56 - Numéro 1 - Pages 43-70
28 pages
Source : Persée ; Ministère de la jeunesse, de l’éducation nationale et de la recherche, Direction de l’enseignement supérieur, Sous-direction des bibliothèques et de la documentation.

Informations

Publié par
Publié le 01 janvier 1998
Nombre de lectures 42
Langue Português
Poids de l'ouvrage 2 Mo

Extrait

Jorge Dos Santos Alves
O triângulo Madeira/Achém/Macau. Um projecto transoceânico
de comércio de ópio (1808-1816)
In: Archipel. Volume 56, 1998. pp. 43-70.
Citer ce document / Cite this document :
Dos Santos Alves Jorge. O triângulo Madeira/Achém/Macau. Um projecto transoceânico de comércio de ópio (1808-1816). In:
Archipel. Volume 56, 1998. pp. 43-70.
doi : 10.3406/arch.1998.3478
http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/arch_0044-8613_1998_num_56_1_3478Jorge M. dos Santos ALVES
O triângulo Madeira/Achém/Macau
Um projecto transoceânico de comércio de opio
(1808-1816)
Como fîcou recentemente demonstrado num estudo de critica e revisâo
historiogrâfica(1), a anâlise do comércio português e luso-asiâtico no Golfo
de Bengala, na Insulîndia e no Mar da China, nas primeiras décadas do
século XIX, deve ser revisitada e repensada. Nâo se trata apenas de procéder
a simples cosmética, repescando exemplos mais ou menos singulares sobre o
tema, mas de procurar avaliar ponderadamente o nivel e a extensâo da
participaçâo de homens de negôcios Portugueses e luso-asiâticos nas redes
comerciais asiâticas e mesmo transoceânicas durante aquela época.
Um dos ângulos de anâlise privilegiados para o fazer é, como jâ notaram
autores como Pierre- Yves Manguin(2), George Bryan de Souza(3) e, mais
recentemente, Angela GuimarâesW, partindo do estudo da vida comercial-
1. Cf. Kenneth McPherson, "Enemies or Friends? The Portuguese, the British and the Survival of
Portuguese Commerce in the Bay of Bengal and Southeast Asia, from the Late Seventeenth Century to
the Late Nineteenth Century", in The Portuguese and the Pacific. International Colloquium at Santa
Barbara, ed. Francis A. Dutra e Joâo Camilo dos Santos, Santa Barbara, Center for Portuguese Studies/
University of California, 1995, pp. 21 1-238.
2. Pierre- Yves Manguin, Les Nguyen, Macau et le Portugal. Aspects politiques et commerciaux d'une
relation privilégiée en Mer de Chine, 1773-1802, Paris, 1984.
3. George Bryan de Souza, The Survival of Empire. The Portuguese in China, 1630-1753, Cambridge,
1986.
4. Angela Guimarâes, Uma relaçâo especial. Macau e as relaçôes luso-chinesas, 1780-1844, Lisboa,
CIES, 1996.
Archipel 56, Paris, 1998, pp. 43-70 44 Jorge M. dos Santos Alves
maritima e diplomâtica de Macau. Ora, o que essa perspectiva de anâlise
bem evidencia é que na viragem para o século XIX os homens de negôcios
de Macau e a prôpria vida mercantil da cidade permaneciam particularmente
activos ; procuravam até romper em direcçâo a novos mercados, no Mar da
China, no ïndico, no Atlântico e mesmo no Pacîfico. Macau fê-lo entâo,
como sempre o fizera, através da acçâo concertada dos seus canais
diplomâticos e comerciais.
Sem esta plâstica e eficaz diplomacia do empôrio macaense, que nâo se
restringe, como alguma historiografia ainda supôe, ao Império Chinés, nâo
teria sido em varias épocas da sua histôria, a sobrevivência de Macau. Até,
porque, como bem recorda Luis F. Barreto, "Macau é um laboratôrio
histôrico-cultural das relaçôes internacionais " (5). Foi, com efeito, a
internacionalizaçâo elevada à maxima potência uma das razôes mais
decisivas para a solidificaçâo e sobrevivência do projecto luso-chinês de
Macau. A hâbil tecelagem desta rede de contactos e relaçôes politico-
diplomâticas e mercantis fez de amortecedor para muitas das crises da cidade
e serviu, afinal, de garante da sua continuidade como porto internacionaK6).
Macau e o comércio asiâtico em in ici os do século XIX
Nas primeiras décadas do século XIX, numa linha de clara e consistente
continuidade, Macau tudo fez para manter a abertura aos mercados
circundantes da Asia do Sueste e do Mar da China. Seguindo o modelo
tradicional, com maiores ou menores dificuldades, numa conjuntura especial
Macau procurou estender o seu comércio a novas areas geogrâficas. O
objectivo, numa época de internacionalizaçâo do comércio asiâtico, era a
internacionalizaçâo total : saltar da escala asiâtica para a escala global. Isto
é, deixar os limites do Indico e do Mar da China, para chegar ao Atlântico e
ao Pacîfico.
A conciliaçâo daqueles que podemos designar por " mercados
tradicionais " da geografia de negôcios de Macau na Âsia do Sueste e Mar da
China (v.g. Siâo, Camboja, Cochinchina, Bornéu, Banjarmassim e Timor)
com novos mercados dentro desta mesma regiâo (Terengganu, Achém e
5. Luis F. Barreto, " A condiçâo de Macau - elementos para uma anâlise histôrico cultural ", in
Administraçâo. Revista da Administraçâo Pûblica de Macau, n. 30, vol. VIII, Dezembro de 1995, pp.
777-787 [778].
6. Cf. Jorge M. dos Santos Alves, "Natureza do Primeiro Ciclo de Diplomacia Luso-Chinesa (séculos
XVI-XVIII), in Estudos de Histôria do Relacionamento Luso-Chinês (séculos XVI-XIX), coordenaçâo e
organizaçâo de Antonio Vasconcelos de Saldanha e Jorge M. dos Santos Alves, Macau, IPOR, 1996, pp.
179-219.
Archipel 56, Paris, 1998 Um projecto transoceânico de corner do de ôpio (1808-1816) 45
Pontianak) constituiu uma das novidades do perfodo que mediou entre os
finais do século XVIII e os primordios do XIX. Na procura de uma
maximizaçâo da autonomia mercante e diplomâtica à escala transoceânica
residia o objectivo maior do empôrio macaense.
Nesta época, um produto em especial parecia capaz de levar Macau à
consumaçâo dos seus novos objectivos : o ôpio. Desde o ultimo quartel do
século XVIII, e nomeadamente nos primeiros anos do XIX, a estrutura do
comércio asiâtico alterou-se substancialmente. Talvez pela primeira vez, as
relaçôes comerciais entre a Asia e a Europa representavam maior volume de
mercadorias e maior valor financeiro do que o chamado comércio Asia-Asia.
Neste processo, o comércio de ôpio adquirira particular significado,
mormente no regime de trocas entre os europeus (encabeçados pelos
ingleses) e o Império Chinés (7).
Deste antanho controlado por mercadores do Guzerate e de outras partes
da India, o comércio de ôpio nos mercados asiâticos passou em finais do
século XVII para as mâos da Companhia Holandesa das Indias Orientais
(V.O.C.). Posteriormente, graças à conquista de Bengala, a grande zona
produtora de ôpio da India (8), pelos ingleses, iniciada em 1757, o negôcio do
ôpio deslizou gradualmente para as mâos dos ingleses ao longo do século
XVIII. Em 1773 os interesses ingleses (representados maioritariamente pela
Companhia Inglesa das Indias Orientais, a E.I.C.) começaram por
estabelecer o monopôlio sobre o comércio opiâceo. Em 1797 o monopôlio
inglês estendeu-se ao prôprio circuito produtivo, banindo em poucos anos
todo o cultivo paralelo e levando à concentraçâo da produçâo nas areas de
Bihar e BanarasW. Primeiramente destinado aos mercados da Asia do
Sueste, o ôpio de Bengala penetrou de forma crescente, explosiva depois, em
principios do século XIX, no mercado chinés. Uma vez mais fê-lo pela mâo
dos ingleses, que assim conseguiam compensar (o que a panaria de algodâo
por si sô nâo era capaz) o défice das suas transaçôes de châ chinés nos portos
daquele império.
7. Sobre a intensificaçâo do comércio de ôpio no porto de Cantâo e a participaçâo de Macau nesse
processo, nas ultimas décadas do século XVIII, veja-se L. Dermigny, La Chine et l'Occident. Le
commerce à Canton au XVIIe siècle. 1719-1833, 4 vols., Paris, 1964.
8. A produçâo de ôpio de Bengala englobava também a das regiôes vizinhas de Bihar e Orissa.
9. Uma excelente sîntese deste processo de controlo da produçâo e comercializaçâo do ôpio na regiâo de
Bengala em Om Prakash, "Opium monopoly in India and Indonesia in the Eighteenth century", in
Merchants, Markets and the State in Early Modern India, ediçâo de Sanjay Subrahmanyam, Nova Deli,
Oxford University Press, 1990, pp. 121-139 [122-132].
Archipel 56, Paris, 1998 46 Jorge M. dos Santos Alves
Por momentos, esta hegemonia inglesa sobre o trâfico de ôpio na
Insulindia e no Mar da China logrou mesmo o controlo simultâneo da
principal ârea produtora e exportadora (o Bengala) e de um dos maiores
mercados consumidores (Java), graças à ocupaçâo da ilha por forças inglesas
entre 1811e 1816(10).
Os homens de negôcio

  • Univers Univers
  • Ebooks Ebooks
  • Livres audio Livres audio
  • Presse Presse
  • Podcasts Podcasts
  • BD BD
  • Documents Documents