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Publié par | Salamanca |
Nombre de lectures | 66 |
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Langue | Español |
Poids de l'ouvrage | 1 Mo |
Extrait
1610 anno Domini
Desta cousa tam util e necessaria aos homens,
e havida por tam sagrada é tam rico Portugal,
que com o sal de soo lugar chamado Setuval
se sostentam as mais provincias do septentrião
aonde o vêm buscar infinito número de naos cada anno,
e de outro lugar, que chamão Alcacere do Sal:
e já os romanos lhe chamavão Salacia,
por o muito sal que daí se leva para todo o sertam dos reinos
de Castela e Leão até a Mancha de Aragam e outras partes
que podendo-o haver de lugares maritimos
que têm e de poços, o deixam por o de Portugal,
que na alvura e gosto excede a todo o de outras partes.
Duarte Nunes de Leão - Descrição do Reino de Portugal, fólios 48 v. e 49
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Palavras prévias, a quem são devidas
Esta dissertação não existiria sem que se tivessem cruzado e aliado um conjunto
determinado de circunstâncias. Devido a estas, por um lado e à cooperação e
colaboração estabelecida entre distintos contextos, por outro, o texto ora apresentado
não existiria nestes moldes, dos quais a dissertação procura ser fiel, se bem que
modesta, testemunha.
Comecemos pelas circunstâncias, que se prendem com um espaço geográfico,
que é a cidade de Setúbal e, mais concretamente, uma instituição nela existente, que é o
Museu da Cidade. Esse museu tem uma determinada função social, que é o de investigar
e narrar a história daquele lugar. Assim, primeiramente, há que reconhecer todos
aqueles que pugnaram pela sua existência, o criaram e o mantiveram. Falamos de
muitas pessoas, muitas mesmo, que, desde finais do Século XIX, se associaram numa
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corrente ininterrupta até aos dias de hoje, defendendo a importância social do passado
para a construção do presente, dos me permito destacar: João Carlos de Almeida
Carvalho, Januário da Silva, Manuel Maria Portela, António Inácio Marques da Costa,
Arronches Junqueiro, Paula Borba, Ana de Castro Osório, Fran Paxeco, José Marques
da Costa, Manuel Envia, Rogério Peres Claro, Laurinda Abreu, Ana Maria Lopes
Duarte, Isabel Victor, Albérico Afonso, Maurício Costa, entre outros mas, sobretudo,
Moniz Borba e Fernando António Baptista Pereira, os dois directores desta instituição,
com enorme admiração.
Dentro do Museu da Cidade existem vários profissionais, de distintas valências,
sendo que uma delas é a de arqueologia. É nesta última valência que se insere o trabalho
ora apresentado. Contudo, para este trabalho foi necessário previamente efectuar várias
intervenções arqueológicas e muitos outros estudos. A arqueologia raramente se
apresenta como um trabalho individual e este presente acaba por ser o reflexo pessoal de
muitos outros trabalhos colectivos desenvolvidos na cidade de Setúbal. Assim, gostaria
de reconhecer também aqueles que permitiram que muitos outros trabalhos fossem
realizados e que as intervenções e estudos se tivessem efectuado: Fernando Castelo-
Branco, Fernando Bandeira Ferreira, Luís Jorge Gonçalves, Luís Ferreira, A. M. Dias
Diogo, Pedro Xavier, Maria João Cândido, Gustavo Portocarrero, Guilherme Cardoso,
Eurico Sepúlveda, António Rafael Carvalho, João Carlos Faria, Marisol Aires Ferreira,
Isabel Cristina Fernandes, Luzia Seromenho, Maria João Lopes, Raquel Florindo, Inês
Ferreira, Joaquim Folhento, Joana Valido Ferreira, Pierre Rio, bem como aos técnicos
do MAEDS, Carlos Tavares da Silva, Joaquina Soares, Antónia Coelho-Soares, Júlio
Baptista e Susana Duarte, pois sem o seu labor, também não se teria conseguido
elaborar uma síntese satisfatória.
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Com a arqueologia estiveram sempre presentes outras áreas de saber, que com
ela dialogaram exaustivamente, de modo a extrair o máximo de informação pertinente
dos vestígios materiais descobertos e exumados. Os nossos agradecimentos especiais a
Luís Manuel Alves Lopes, Rafael Salinas Calado, Carlos Russo dos Santos, Francisco
Santana, Nathalie Antunes-Ferreira, Ana Patrícia Trindade Coelho, Miguel Costa, Maria
do Amparo Cardoso das Neves, Maria Madalena Fialho, Carla Devesa Rodrigues,
Andreia A. Teixeira, Jaime Pinho, Francisco Assis Costa, Hugo Silva, João Paulo
Pereira, José Paulo Nobre, Merel Lantman, José Carlos Neto e José Minderico.
Após a referência à estrutura e à sua conjuntura, convém explicar que o trabalho
ora apresentado resulta de um esforço de criação de uma dissertação doutoral, pelo que
cabe, em primeiro lugar, o agradecimento às Universidades de Salamanca e Autónoma
de Lisboa, pela possibilidade de poder apresentar, à sua avaliação, esta obra e, em
segundo, de igual ou ainda maior importância, a João Luís Cardoso, orientador desta
tese. A ele cumpriu a difícil tarefa de colocar nos caminhos mais seguros, mas
principalmente o de refrear os impulsos e os excessos de criatividade juvenis do seu
efebo orientando.
Por último, a razão principal existência deste trabalho, nestes moldes; quer do
ponto de vista alfa, quer da perspectiva ómega, a maior reponsável pelo mesmo. Criou-
me e educou-me, vocacionou-me e devotou-me para isto mesmo, uma área do saber que
só se decifra através da leitura dos signos, que só funciona religando os tempos, sempre
para além da aparência. Obrigado mãe, a ti este texto é dedicado.
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Um começo possível
Tendo como objectivo melhor enquadrar a presente dissertação e em que
problemáticas vem dar significativo contributo, temos de tentar oferecer o contexto
arqueológico em que a mesma se insere.
Setúbal, numa realidade relativamente precoce, vem a ter a primeira intervenção
urbana ainda nos idos do início do Século XX, aquando da criação do túnel ferroviário
de Palhais – Fontainhas. Essa obra, muito polémica aquando da sua realização,
conforme podemos verificar pela leitura dos periódicos da época, nomeadamente n’ O
Sul, no ano de 1906, não nos falam, todavia, de uma intervenção arqueológica que aí
ocorreu. Essa intervenção, realizada por António Inácio Marques da Costa, vem a ser
publicada sessenta anos depois, já o investigador havia três décadas que falecera,
revelando testemunhos de uma necrópole romana, com uma cronologia balizada entre
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1os Séculos II a IV a.D. . Não é tão de estranhar que os resultados não tenham sido
noticiados, pois para António Inácio Marques da Costa, como para a sua época, os
achados de objectos arqueológicos dentro de cidades resultariam como obstrutivos à
construção do desenvolvimento. Algumas sepulturas romanas, descontextualizadas,
poderiam corresponder a vários tipos de ocupação. Urbana foi aquela que A. I. Marques
da Costa não pensou. Já na altura as metodologias arqueológicas eram morosas, o que
resultaria num estorvo e num grande incómodo se se procedesse à sua aplicação em
cidades, cheias de gente. Mesmo assim, não lhe era estranho o facto de as cidades
encerrarem inúmeras informações sobre a sua própria identidade. Atenda-se a que o seu
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antecessor nestas lides da história, arqueologia e património, o Alexandre Herculano ,
chama a atenção para esse aspecto.
Todavia, para António Inácio Marques da Costa, nada disso era verdadeiramente
relevante. Na esteia da sadina Sociedade Arqueológica Lusitana, criada nos idos de 50,
este investigador queria registar sistematicamente. Gama Xaro, ilustre e erudito homem
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da Igreja , coordenador da SAL, conjuntamente com os seus pupilos, havia registado
1 Carlos Tavares da Siva – Necrópole Luso-Romana de S. Sebastião (Setúbal), Ed. Separata do IV
Colóquio Portuense de Arqueologia, Porto, 1966.
2 Alexandre Herculano – O Monge de Cister (prefácio).
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Xaro (Manuel da Gama). Nasceu em Beja a 22 de Dezembro de 1800, e morreu a 10 de Março de 1870.
Era filho do bacharel José António Xaro e de D. Bernarda
Perpétua Rosa da Gama Xaro. Concluídos os primeiros estudos entrou aos 16 anos de idade na ordem
dos carmelitas calçados, seguindo depois o curso de filosofia no colégio da mesma ordem em Coimbra.
Secularizando-se em 1825, recebeu o hábito de freire professo na ordem militar de Santiago da Espada e
em 1827 foi provido mediante concurso em um dos benefícios da igreja