História ou romance? A renovação da biografia nas décadas de 1920 a 1940
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No alvorecer do século XX, o debate sobre biografias ocupou autores e intelectuais europeus interessados em reconsiderar os diversos campos da produção letrada. objetivamos nesse artigo situar esse debate entre autores ingleses, por meio da apresentação de algumas de suas indagações sobre a dimensão artística, na sua proximidade com a forma do romance, de biografias qualificadas como modernas. Se Lytton Strachey e sua “Rainha Vitória” (1921) vieram a se tornar referências, isso assim ocorreu no contexto de questionamentos realizados por harold Nicolson e por Virgínia Woolf, nas décadas de 1920 e 1930. ao caracterizarmos as indagações de Nicolson e Woolf, pretendemos analisar o valor seminal das mesmas em apropriações que afetaram autores franceses - destaque para andre Maurois e seu Aspectos da biografia (1928) – e também letrados e críticos brasileiros – como Edgard cavalheiro e seu texto Biografias e biógrafos (1943).

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Publié le 01 janvier 2011
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Langue Português
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Extrait

Márcia de Almeida Gonçalves
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Professora dos
Departamentos de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Bolsista do Programa
Jovem Cientista do Estado (Faperj). Autora, entre outros livros, de Em terreno mo-
vediço: biografa e história na obra de Octávio Tarquínio de Sousa. Rio de Janeiro:
Eduerj, 2009. agmarcia@uol.com.br
História ou romance?
A renovação da biografa nas
décadas de 1920 a 1940
Virginia Woolf (detalhe). 1994.História ou romance? A renovação da biografa
nas décadas de 1920 a 1940
Márcia de Almeida Gonçalves
resumo abstract
No alvorecer do século XX, o debate In the beginning of the 20th century, the
sobre biografias ocupou autores e debate about biographies occupied Euro-
intelectuais europeus interessados em pean intellectuals and authors interested
reconsiderar os diversos campos da in discussing the various felds of literary
produção letrada. o bjetivamos nesse production. This article aims to situate
artigo situar esse debate entre autores this debate between English authors, by
ingleses, por meio da apresentação de presenting some questions about the artis-
algumas de suas indagações sobre a tic dimension of modern biographies and
dimensão artística, na sua proximidade their strict relations to the novel. If Lyton
com a forma do romance, de biografas Strachey and his “Queen Victoria” (1921)
qualifcadas como modernas. Se Lyton have became a reference, it just occurred in
Strachey e sua “Rainha Vitória” (1921) the context of inquiries made by Harold
vieram a se tornar referências, isso as- Nicolson and by Virginia Woolf, in the
sim ocorreu no contexto de questiona- 1920s and 1930s. Those inquiries were
mentos realizados por h arold Nicolson appropriated by French authors, as Andre
e por Virgínia Woolf, nas décadas de Maurois and his “Aspects of biography”
1920 e 1930. a o caracterizarmos as (1928), and also by Brazilian critics, as
indagações de Nicolson e Woolf, pre- Edgard Cavalheiro and his text “Biogra-
tendemos analisar o valor seminal das phies e biographers” (1943).
mesmas em apropriações que afetaram
autores franceses - destaque para an-
dre Maurois e seu Aspectos da biografa
(1928) – e também letrados e críticos
brasileiros – como Edgard cavalheiro
e seu texto Biografas e biógrafos (1943).
palavras-chave: biografa; romance; keywords: Biography; Novel; Modernism
modernismo

No alvorecer do século XXI, a biografa desfruta de favores e valores
entre os gêneros discursivos mais presentes em diversos suportes: dos textos
impressos, em tamanhos e formas variadas, às apropriações midiáticas pelo
cinema, televisão e pela internet. Nos espaços acadêmicos e em campos de
saber das ditas ciências sociais, ênfase para a história, a antropologia e a
teoria literária, a refexão acerca da presença e do uso de narrativas sobre
ações e emoções de sujeitos individuais expandiu-se consideravelmente,
120 ArtCultura, Uberlândia, v. 13, n. 22, p. 119-135, jan.-jun. 2011na esteira do que veio a ser designado de virada lingüística e guinada
1 a cerca das implicações episte-1subjetiva .
mológicas da virada lingüística,
Se ainda há o que discutir e analisar sobre os usos sociais alargados ver rort Y, r ichard M. The
linguistic turn: essays on phi-e características intrínsecas de histórias de vida de sujeitos individuais,
losophical method. c hicago:
e certamente há, as mesmas adquiriram um lugar reconhecido entre os c higago University Press, 1992.
Sobre a guinada subjetiva, ver artefatos culturais viabilizadores tanto do prazer estético quanto do po-
Sarlo , Beatriz. Tempo passado: der de conhecer, sensibilizando e orientando leitores os mais diversos, na
cultura da memória e guinada
contemporaneidade acelerada de nosso tempo presente. subjetiva. São Paulo: c ompa-
nhia das letras, 2007.No intuito de contribuir para as refexões acerca da biografa, inte-
2 Ver Ma DEl ÉNat , Daniel. ressa-nos inventariar um pouco da sua história, no diálogo com aqueles
La biographie. Paris: Presses
que assim o fzeram em momentos outros, empenhados que estavam em Universitaires de france, 1984.
estabelecer para as histórias de vida um status particular entre gêneros
3 a o se valer do conceito de
familiares, como a historiografa e o romance. paradigma, Madelénat enfa-
tiza sua dimensão heurística. Costuma-se afrmar que uma das marcas da biografa - quanto à meto-
assim esclarece que o conceito
dologia de produção e à forma fnal da narrativa - aponta para o hibridismo, de paradigma permite uma
manifesto na mescla de preocupações de referencialidade documental com classificação sob a lógica de
uma espécie de tipo ideal, nesse uma poética específca para sua escritura. Tal concepção, entretanto, possui
sentido, modelar e referencial,
historicidade, e é esse ponto que pretendemos situar no presente artigo. estabelecendo critérios para
construir uma inteligibilidade Dialogamos, em parte, com as considerações de Daniel Madelénat,
para as variadas formas que os 2no seu livro referencial sobre a biografa . Na busca de compreender a his- textos biográfcos assumiram
tória da biografa como gênero particular entre as produções letradas no na temporalidade longa, entre
a g récia dos séculos V e iV ocidente europeu, Madelénat propôs chaves analíticas em que se destaca
antes de c risto e a contem-
a categorização de três paradigmas, a saber: a biografa clássica, a biografa poraneidade do momento de
3 publicação do seu trabalho, a romântica e a biografa moderna . Nossa análise se direciona para essa
década de 1980. Nessa pers-
última, e busca apresentar algumas das polêmicas que condicionaram seu pectiva, a biografia clássica
surgimento e proliferação nas décadas iniciais do século XX. se situaria, entre surgimento
e usos predominantes, a des-Segundo Madelénat, a biografa moderna nasceu da crise que afetou
peito da diversidade, entre o
valores do humanismo greco-latino, da religião cristã e do racionalismo, mundo grego antigo e o século
XVIII; a biografa romântica, em especial nas sociedades européias. Nesse quadro, destacar-se-iam a
entre fnais do século XVIII e o
emergência e difusão: das flosofas do inconsciente, de Schopenhauer curso do século XIX; a biografa
e de Nietzsche; das considerações da teoria psicanalítica freudiana; das moderna, na passagem para o
século XX até a atualidade.revisões variadas do cientifcismo positivista – nas remissões ao lugar do
Em obra recente, f rançois Dos-intuitivo como meio de conhecer –; e também das formulações estéticas
se (O desafo biográfco : escrever
dos pós-naturalistas, entre as produções artísticas do impressionismo, do uma vida. São Paulo: Edusp,
expressionismo e do cubismo, inseridas no conjunto universo amplo dos 2009. a publicação em francês,
pela Éditions l a Découverte, “modernismos”. Rompiam-se assim certas normas e premissas do ideal
data de 2005), propõe tipo-
de objetividade no ato de investigar e representar as ações humanas no logia diferenciada e referida
4 às seguintes categorizações: mundo, em nome da maior complexidade psicológica do sujeito individual .
a idade heróica, a biografia
A escrita de biografas não foi poupada por essa crise de valores. modal e a idade hermenêutica.
Afnal, ao tratar de histórias de vida de sujeitos individuais, a biografa Sem aprofundar controvérsias,
identifcamos na categorização conjugava, nos seus procedimentos e na sua funcionalidade, àquela altura,
de Madelénat critérios melhor
uma série de características imbricadas com as premissas do conhecimento explicitados por relacionar as
diversas formas assumidas objetivo – referencialidade documental, veracidade, neutralidade do bió-
pelo texto biográfco a parâme-5grafo, entre outras . Ao apostarem em uma nova biografa, para alguns tros sócio-culturais específcos,
uma biografa moderna, certos letrados desenvolveram questionamentos entre os quais as transforma-
ções nas maneiras de conceber e indagações deveras interessantes, como as da positividade de seu hibri-
sujeitos e subjetividades e os
dismo – “história e romance ao mesmo tempo”–, constituindo referências processos de laicização, fortes
na modernidade européia, com as quais, de certa forma, aind

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