Rádios ilegais: da legitimidade à democratização das práticas
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Rádios ilegais: da legitimidade à democratização das práticas

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Extrait

Sandra Sueli Garcia de Sousa       Dissertação apresentada aoCentro de PósGraduação  da UMES, em cumprimento parcial às exigências para  obtenção do grau deMestre em Comunicação Social,  sob a orientação doProf. Dr. J. S. Faro.
Universidade Metodista de São Bernardo do Campo (UMES) São Bernardo do Campo, SP, Brasil, agosto, 1997
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Resumo
O fenômeno das rádios ilegais existe em todo o mundo desde que surgiu a
radiodifusão. No Brasil, as emissoras sem autorização oficial surgiram em maior
número a partir da década de 80. Num primeiro momento, foram chamadas de
“rádios piratas”, umhobby de adolescentes estudantes de eletrônica; depois
foram as “rádios livres”, uma forma política de descentralizar a propriedade dos
meios de comunicação e, atualmente,
são conhecidas
como “rádios
comunitárias”, emissoras dirigidas ao cotidiano dos bairros em que se localizam
e que também lutam por uma maior democracia nos meios de comunicação.
Esta dissertação trata desse fenômeno em duas partes: a primeira traça um
perfil histórico das emissoras ilegais, identifica a experiência como uma das
formas de se realizar acomunicação alternativa e situa a conjuntura política
em que as rádios estão inseridas; a segunda parte aprofunda a discussão sobre as
rádios comunitárias, tomando como exemplo a Rádio Cidadã, uma rádio
comunitária localizada na zona Oeste da cidade de São Paulo, que procura ser o
veículo de expressão de sua comunidade.
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Abstract
The phenomenon of illegal radios has existed throughout the world since
radiodiffusion began. In Brazil, the broadcasting station without official
authorization appeared in great number by the earlier 80’s. First, these
broadcasting stations were called “pirate radios”, a hobby of adolescents who
were studying eletronic. After that, they were called “free radios”, a political
way to descentralize the means of communication’s domain. Nowadays, these
radios are known as “local radios” which are broadcasts that deal with the daily
activities of the district where they are. Besides that, they also want more
democracy in the means of the communication.
This dissertation, which is about this phenomenon, is divided in two parts:
the first one makes a historic perfil of the illegal radios, identifies the experience
as one way to consummatealternative communicationsituates the and
political conjuncture in which the radios are inserted; the second one deepens
the discussion about the local radios, taking as example Cidadã Radio which is a
local radio situated in the west of São Paulo and that wants be the expression
vehicle of its community.
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Para meu querido companheiro, Eliézer Barreto, e para meus pais, Wilson Francisco de Souza e Rocimar Garcia de Souza. 12
Agradecimentos
Agradeço à Universidade Federal do Pará (UFPA) por ter acreditado em
mim concedendome a bolsa do Programa Institucional de Capacitação de
Docentes e Técnica (PICDT), sem a qual não teria sido possível a realização
desta dissertação. Agradeço à firme orientação prestada pelo Prof. Dr. J. S. Faro,
que contribuiu valiosamente para a consecução desta. Agradeço em especial às
orientações iniciais dos Profs. Drs. Joana Puntel e Luiz Roberto Alves pelas
imprescindíveis sugestões. Agradeço a José Carlos Francisco de Paula, pelo
acesso a uma parte do material bibliográfico utilizado. Agradeço a todos da
Rádio Cidadã pelo pronto atendimento durante a pesquisa de campo, em
especial a Luci Martins, Grácia e Donizete. Por fim, agradeço ao meu
companheiro, a minha família e aos meus amigos pelo apoio sempre necessário.
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Sumário
Introdução Parte ICapítulo 1Os caminhos do rádio1.1. A invenção do rádio e seu rápido crescimento 1.2. A chegada do rádio no Brasil 1.3. Nos barcos e nos porões: a pirataria está no ar 1.4. Rádios clandestinas e sindicais: lutas políticas 1.5. O movimento de contestação das rádios livres Capítulo 2 As rádios ilegais no Brasil2.1. As primeiras ondas livres no Brasil 2.2. Rádios religiosas: a “salvação” vem pelo ar2.3. Rádios comunitárias: um novo canal de expressão Capítulo 3 A comunicação alternativa e a comunicação popular 3.1. A comunicação alternativa 3.2. A comunicação popular 3.3. Localizando as práticas Capítulo 4 A democratização da comunicação
4.1. Anos 80: os movimentos sociais e as novas tecnologias 4.2. O movimento pela democratização da comunicação 4.3. As rádios livres: conotações políticas 4.4. Anos 90: o início da luta pela regulamentação  das rádios comunitárias 4.5. Exploração do serviço de radiodifusão 4.6. As principais leis que orientam o serviço de radiodifusão
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Parte IICapítulo 5 A história de uma rádio comunitária: a Rádio Cidadã 5.1. Antecedentes 5.2. Principais características do Butantã e região 5.3. A Rádio Cidadã Capítulo 6Os programas da Rádio Cidadã6.1. A grade de programação da emissora 6.2. Primeira grade: programas de domingo 6.3. Segunda grade: programas de segunda à sextafeira 6.4. Terceira grade: programas de sábado Capítulo 7 A voz da Rádio Cidadã7.1. Os programas analisados 7.2.Na boca do povo7.3.Encontro com as comunidades7.4.Cala a boca já morreu (porque criança também tem o que dizer)Capítulo 8Pistas sobre o público da Rádio Cidadã8.1. Considerações preliminares 8.2. O perfil do ouvinte jovem 8.3. O perfil do ouvinte adulto 8.4. O nãoouvinte da Rádio Cidadã
Conclusão
Bibliografia
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“deixar que os fatos sejam fatos naturalmente, sem que sejam forjados para acontecer deixar que os olhos vejam pequenos detalhes lentamente deixar que as coisas que lhe circundam estejam sempre inertes como móveis inofensivos pra lhe servir quando for preciso e nunca lhe causar danos morais, físicos ou psicológicos."(Chico Science & Nação Zumbi)
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Introdução
O ano de 1989 marcou, no Brasil, a volta das eleições diretas para a
presidência da República. Falavase em democracia, e novos instrumentos de
comunicação surgiam para testála, entre os quais estavam as rádios livres. Foi
naquele ano que tivemos nosso primeiro contato com essa experiência, o qual se
deu por meio da leitura da obraRádios Livres, a reforma agrária no ar, de
Arlindo Machado, Caio Magri e Marcelo Masagão.
A partir daí pudemos vivenciar o rádio na prática, criando alguns
programas na rádio livre doCentro Acadêmico de Comunicação Social da
Universidade Federal do Pará, onde cursávamos o segundo ano de Jornalismo.
Em 1991, participamos doIII Encontro Nacional de Rádios Livres, em Macaé
(RJ), e ampliamos um pouco mais o nosso conhecimento sobre o assunto. Na
época, víamos a rádio livre como um laboratório onde era possível uma fala
diferente no ar. Ainda não enxergávamos outras possibilidades no veículo, o que
só ocorreria nos anos seguintes.
1 Em 1992, pairou sobre Belém (PA) um estranhoSinal de fumaça, vindo
da desconhecida cidade dePoá, na Grande São Paulo, que divulgava uma série
1Sinal de fumaça foi umfanzine produzido para divulgar as rádios livres;fanzine é a contração das palavrasfanatic emagazine, designando uma publicação alternativa, amadora e produzida artesanalmente.  17
de experiências libertárias no éter. Atração à primeira lida. Fins de 1993:
mudamonos para Poá, onde se deu início esta dissertação, que pesquisa o
2 fenômeno das rádios ilegais .
O assunto das rádios piratas, rádios livres ou rádios comunitárias é tema
na imprensa desde meados de 1985, mas recentemente voltou à pauta como
hipótese para explicar a queda de dois aviões: o que trazia a bordo o grupo
musical Mamonas Assassinas, em março de 1996, e o Fokker 100 da TAM, que
matou 99 pessoas em São Paulo no final de outubro do mesmo ano. Ambos os
acidentes teriam sido provocados pela interferência de uma rádio pirata nas
linhas aéreas.
Considerando essas hipóteses como verdadeiras, em novembro daquele
ano, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) lança a
campanha“Rádios Piratas: só as autoridades não interferem”, veiculada
pelas rádios oficiais, mas que também conseguiu espaço na televisão em forma
de matérias nos telejornais (só a Rede Globo ocupouse de pelo menos três
matérias, divididas entre oSão Paulo Jáe oJornal Nacional), cuja tônica foi a
interferência – e conseqüente perigo – das rádios ditas “piratas” na comunicação
entre a torre de controle dos aeroportos e a tripulação dos aviões.
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Mas que emissoras são essas? Ouvese falar de rádios piratas, rádios
clandestinas, rádios livres e rádios comunitárias. Qual é a diferença entre elas?
Ou não há diferenças? Para a Abert, seguramente são todas iguais: todas essas
rádios são piratas, ilegais, porque não possuem concessão oficial para operar, e
portanto precisam ser combatidas, já que representam até mesmo um perigo de
3 vida à população .
À parte a opinião oficial, propomos conhecer melhor o mundo dessas
rádios, com mais informações que possam enriquecer a discussão.
Rádios piratas, rádios livres e rádios comunitárias
2 Devido aos diversos nomes dados às rádios sem concessão, optamos por chamálas deilegais, pois, apesar das diferenças de conteúdo, a característica comum dessas emissoras é funcionar sem concessão governamental, portanto, são formalmente ilegais.
3 Interessante observar que, durante o movimento de rádios livres na Itália, na metade da década de 70, uma empresa de aviação, a Alitalia, também levantou uma polêmica desse tipo. Marco Gaido diz, a respeito, em “Los orígenes: la FM, los diskjockeys y las radios piratas”, In: BASSETS, Lluís (ed.).De las ondas rojas a las radios libres. Barcelona, Ed. Gustavo Gili, 1981. p. 175: “Alitalia introduziu uma ridícula polêmica em função das interferências provocadas pelas rádios livres, que eram recebidas nas rádios dos aviões durante a aterrissagem. À parte a puerilidade técnica (os aviões recebem e transmitem em bandas muito distantes das rádios livres, à parte que as fases de aterrissagem e de decolagem são dirigidas também por rádio e pelas to rres de controle, por emissões de impulsos hertzianos que devem ser descodificados a bordo do avião), o que levava tudo para ser um grande escândalo foi calado rapidamente porque a companhia entrou em greve”.
A presidente da Associação Paulista dos Proponentes de Emissoras de Radiodifusão Local Comunitária (Aperloc), Luci Martins, em entrevista ao programaOpinião nacional, da TV Cultura, disse que tanto as rádios comunitárias quanto as pi ratas e até mesmo as comerciais realmente interferem nas comunicações dos aeroportos de Guarulhos e Congonhas, mas para ela há um certo exagero em afirmar que as interferências são um risco de vida, e esse exagero, segundo ela, devese ao fato de o projeto que regulamenta o serviço das rádios comunitárias já ter sido aprovado pela Câmara dos Deputados Federais e ter sido encaminhado ao Senado: “Costumamos brincar entre nós que se as
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