A Revolução dos Bichos
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A Revolução dos Bichos , livre ebook

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Description

A Revolução dos Bichos é um ensaio político sobre como as revoluções podem ser vítimas de contrarrevoluções, virando as costas para suas próprias ideias originais. A obra chega a mapear razoavelmente o progresso de algumas revoluções históricas, principalmente a Revolução Russa de 1917. Mas, descrita dessa forma, ninguém além de alguns poucos acadêmicos algum dia se interessaria em lê-la. A genialidade de Orwell estava em atingir o mesmo objetivo através de um formato de fábula, o que encaminhou a sua história até uma audiência de massa; afinal, sua obra poderia ser entendida, como ele mesmo afirmou, por praticamente qualquer um.
Então, Orwell seguiu os passos de Walt Disney e La Fontaine, que consistia em contar uma história sobre seres humanos através de animais. No processo, o autor revelou que os pecados dos revolucionários não estão limitados a pessoas diretamente envolvidas em revoluções de fato. Na verdade, esta é uma possibilidade humana permanente: um dia acreditar piamente nos mais elevados ideais, e depois eventualmente trair todos eles.
Hoje, toda vez que uma revolução dá errado, as pessoas retornam às questões de A Revolução dos Bichos, e declaram que a obra estava à frente de seu tempo. Ora, mas esta é precisamente a genialidade da fábula de Orwell: ao cortar todas as referências humanas contemporâneas, Orwell encontrou uma maneira de nos contar sobre nós mesmos em todo e qualquer tempo, inclusive no futuro. Esta obra é, portanto, um clássico eterno.

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Informations

Publié par
Date de parution 02 janvier 2023
Nombre de lectures 0
EAN13 9782384651214
Langue Português

Informations légales : prix de location à la page 0,0050€. Cette information est donnée uniquement à titre indicatif conformément à la législation en vigueur.

Extrait

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS
GEORGE ORWELL
TRADUCIDO POR A N D R É M I G U E L F E R N A N D E S
Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10
ÍNDICE
Capítulo 1
O Sr. Jones, da Granja do Solar, trancou o galinhei ro para a noite, mas estava bêbado demais para se lembrar de trancar as vigias. Com o facho de luz de sua lanterna balançando de um lado para o outro, ele avançou pel o pátio, arrancou as botas na porta dos fundos, serviu-se de um último copo de ce rveja do barril na área de serviço e se dirigiu para sua cama, onde a Sra. Jones já ronc ava. Assim que a luz do quarto se apagou, houve uma agit ação e um alvoroço por todos os prédios da granja. Durante todo o dia, correram boatos de que o velho Major, o porcomiddle-white premiado, tivera um sonho estranho na noite anteri or e desejava comunicá-lo aos outros animais. Fora concordado que todos deveriam se encontrar no grande celeiro assim que o Sr. Jones estivesse segu ramente fora do caminho. O Velho Major (como ele sempre era chamado, embora o nome c om o qual ele fora exibido fosse “Beleza de Willingdon”) gozava de tanta estim a na granja que todos estavam prontos para perder uma hora de sono para ouvir o q ue ele tinha a dizer. Em um dos cantos do grande celeiro, numa espécie de plataforma elevada, o Major já se encontrava instalado em sua cama de palha, so b uma lanterna que pendia de uma viga. Ele tinha doze anos de idade e ultimament e tinha ficado um tanto corpulento, mas ele ainda era um porco de aparência majestosa, com um ar sábio e benevolente, apesar do fato de suas presas jamais t erem sido cortadas. Não demorou muito e os outros animais começaram a chegar e a se instalar confortavelmente, cada um a seu modo. Primeiro chegaram os três cachorros, Bluebell, Jessie e Pincher, e depois os porcos, que se instalaram na palha imedia tamente à frente da plataforma. As galinhas se empoleiraram nos parapeitos, os pomb os voaram para o esteio, as ovelhas e as vacas se deitaram atrás dos porcos e c omeçaram a ruminar. Os dois cavalos de tração, Boxer e Clover, chegaram juntos, caminhando lentamente e pousando no chão seus vastos cascos peludos com gra nde cautela para o caso de haver algum animal pequeno escondido na palha. Clov er era uma corpulenta égua maternal chegando à metade da sua vida, que nunca c onseguira recuperar sua silhueta depois de seu quarto potro. Boxer era uma fera enorme, de quase um metro e noventa de altura, e tão forte quanto dois cavalos comuns juntos. Uma risca branca descendo pelo seu focinho lhe dava uma aparência um tanto estúpida, e de fato ele não primava por sua inteligência, mas era universal mente respeitado por sua firmeza de caráter e sua tremenda capacidade de trabalho. D epois dos cavalos, chegaram Muriel, a cabra branca, e Benjamim, o burro. Benjam im era o animal mais velho da granja, e o mais genioso. Ele raramente falava, e q uando o fazia, geralmente era para fazer algum comentário cínico — por exemplo, ele di zia que Deus lhe dera uma cauda para afastar as moscas, mas que seria melhor não te r cauda e não ter moscas. Era o único dos animais da granja que nunca ria. Se lhe p erguntassem o motivo, ele diria que ele não via motivos para rir. Contudo, sem admi tir abertamente, ele era devotado a Boxer; os dois geralmente passavam os domingos junt os no pequeno cercado além do pomar, pastando lado a lado sem nunca falar. Os dois cavalos haviam acabado de se instalar quand o uma ninhada de patinhos, que havia perdido a mãe, adentrou o celeiro em fila , piando debilmente e vagando de um lado para o outro para encontrar um lugar onde n ão fossem pisoteados. Clover fez uma espécie de parede ao redor deles com sua grande pata dianteira, e os patinhos se aninharam ali dentro e rapidamente caíram no son o. No último instante, Mollie, a estúpida égua branca que puxava a carroça do Sr. Jo nes, entrou desfilando graciosamente, mascando um torrão de açúcar. Ela se posicionou perto da frente e começou a flertar com sua crina branca, esperando c hamar a atenção para as fitas vermelhas trançadas nela. Por último, veio a gata, que olhou ao redor, como de costume, e por fim, se espremeu entre Boxer e Clove r. Ali ela ronronou contente ao
longo de todo o discurso do Major sem ouvir a uma p alavra do que ele estava dizendo. Todos os animais estavam presentes agora, com exceç ão de Moisés, o corvo domesticado, que dormia num poleiro na porta dos fu ndos. Quando o Major viu que todos já estavam confortáveis e aguardavam atencios amente, ele limpou a garganta e começou: — Camaradas, vocês já ouviram sobre o estranho sonh o que tive na noite passada. Mas falarei do sonho mais tarde. Eu tenho algo mais que desejo dizer primeiro. Eu não acredito, camaradas, que estarei com vocês por muit o mais tempo, e antes de morrer, eu senti que era meu dever passar a vocês a sabedor ia que eu adquiri. Eu vivi uma vida longa, eu tive muito tempo para pensar deitado sozinho no meu estábulo, eu acredito que possa dizer que eu entendo a natureza da vida nesta terra tão bem quanto qualquer animal vivo. É sobre isso que desej o lhes falar. “Pois bem, camaradas, qual é a natureza dessa nossa vida? Encaremos: nossas vidas são miseráveis, laboriosas e breves. Nós nasc emos, recebemos comida apenas o suficiente para continuarmos respirando, e aquele s de nós que são capazes, são forçados a trabalhar até o último átomo de nossas f orças; e no momento em que nossa utilidade chega ao fim, nós somos abatidos co m crueldade hedionda. Nenhum animal na Inglaterra conhece o significado de felic idade ou lazer depois que ele completa um ano de idade. Nenhum animal na Inglaterra é livre. A vida de um animal é miséria e escravidão: esta é a pura verdade. “Mas isso é simplesmente parte da ordem natural? Is so é porque esta nossa terra é tão pobre que não pode proporcionar uma vida decent e para aqueles que nela habitam? Não, camaradas, mil vezes não! O solo da I nglaterra é fértil, seu clima é bom, ele é capaz de proporcionar comida em abundânc ia para um número imensamente maior de animais do que os que agora ha bitam nela. Apenas esta nossa fazenda sustentaria uma dúzia de cavalos, vinte vac as, centenas de ovelhas — e todos eles vivendo confortavelmente e com uma digni dade que agora vai além da nossa imaginação. Por que então continuamos nesta c ondição miserável? Porque praticamente todo o fruto do nosso trabalho é rouba do de nos pelos seres humanos. Aí, camaradas, está a resposta para todos os nossos problemas. Tudo resume-se a uma única palavra — Homem. O Homem é o único inimig o verdadeiro que temos. Remova o Homem de cena, e a causa da nossa fome e d o nosso excesso de trabalho será abolida para sempre. “O homem é a única criatura que consome sem produzi r. Ele não dá leite, ele não põe ovos, ele é fraco demais para lavrar, ele não c onsegue correr rápido o suficiente para apanhar coelhos. Porém, ele é o senhor de todo s os animais. Ele os coloca para trabalhar, ele lhes dá de volta o mínimo para evita r que morram de fome, e o resto ele guarda para si. O nosso trabalho cultiva a terra, o nosso esterco a fertiliza e, contudo, não há um entre nós que seja dono de mais do que se u próprio coro. Vocês, vacas, que eu vejo diante de mim, quantos milhares de galõ es de leite vocês deram durante o último ano? E o que aconteceu com aquele leite que deveria estar alimentando bezerros robustos? Cada gota dele desceu pelas garg antas dos nossos inimigos. E vocês, galinhas, quantos ovos vocês puseram no últi mo ano, e quantos desses ovos chocaram para se tornarem pintinhos? Todo o resto f oi para o mercado para trazer dinheiro para o Jones e seus homens. E você, Clover , onde estão aqueles quatro potros aos quais pariu, os quais deveriam ser o sup orte e o prazer de sua velhice? Cada um foi vendido com um ano de idade — você nunc a os verá de novo. Como pagamento pelos seus quatro partos e por todo o seu trabalho nos campos, o que você já teve, exceto por suas rações cruas e uma ba ia? “E até mesmo as vidas miseráveis que levamos não tê m permissão de alcançar sua duração natural. Particularmente, eu não posso me queixar, pois sou um dos sortudos. Eu tenho doze anos de idade e já tive mai s de quatrocentos filhos. Essa é a vida natural de um porco. Mas nenhum animal escapa da faca cruel no final. Vocês, jovens leitões sentados diante de mim, cada um de v ocês vai guinchar quando suas
vidas chegarem ao fim no cepo daqui a um ano. Todos enfrentaremos esse horror — vacas, porcos, galinhas, ovelhas, todos. Nem os cav alos e os cães têm destino melhor. Você, Boxer, no dia em que esses seus grand es músculos perderam a força, o Jones venderá você para o abatedouro, que cortará a sua garganta e o cozinhará para os cães de caça. Quanto aos cães, quando ficarem ve lhos e banguelas, o Jones amarrará um tijolo em seus pescoços e os afogará no lago mais próximo. “Não está, pois, claro como a água, camaradas, que todos os males dessa nossa vida nascem da tirania dos seres humanos? Simplesme nte livrem-se do Homem, e o produto do nosso trabalho será nosso. Quase da noit e para o dia, nós poderíamos ser ricos e livres. O que devemos fazer, então? Ora, trabalhar noite e dia, de corpo e alma, pela destituição da raça humana! Esta é minha mensa gem para vocês, camaradas: Rebelião! Eu não sei quando essa Rebelião virá, pod e ser daqui a uma semana ou daqui a cem anos, mas eu sei, com tanta certeza qua nto vejo esta palha sob minhas patas, que mais cedo ou mais tarde, a justiça será feita. Fixem seus olhos nisso, camaradas, ao longo do pouco tempo que lhes resta e m suas vidas! E acima de tudo, passem esta minha mensagem para aqueles que vierem depois de vocês, para que as gerações futuras continuem com a luta até que ela s eja vitoriosa. “E lembrem-se, camaradas, a sua determinação jamais deverá fraquejar. Nenhum argumento deve lhes desviar. Nunca deem ouvidos qua ndo lhes disserem que o Homem e os animais têm um interesse em comum, que a prosperidade de um é a prosperidade do outro. É tudo mentira. O Homem não serve aos interesses de nenhuma criatura além de si mesmo. E entre os anima is, que haja perfeita união, perfeito companheirismo na luta. Todos os homens sã o inimigos. Todos os animais são camaradas.” Nesse instante, houve um tremendo alvoroço. Enquant o o Major falava, quatro ratos haviam saído de suas tocas e estavam sentados sobre as patas traseiras, ouvindo seu sermão. Os cães os avistaram de repente , e foi apenas graças a uma corrida ligeira para suas tocas que os ratos salvar am suas vidas. O Major ergueu sua pata para pedir silêncio. — Camaradas, — ele disse, — eis um ponto que deve s er discutido. As criaturas selvagens, como ratos e coelhos. Eles são nossos am igos ou nossos inimigos? Coloquemos em votação. Eu proponho esta questão à a ssembleia: Os ratos são camaradas? A votação iniciou-se imediatamente, e foi concordad o, por esmagadora maioria, que os ratos eram camaradas. Houve apenas quatro di ssidentes, os três cachorros e a gata que, posteriormente se descobriu ter votado pe los dois lados. O Major continuou: — Eu pouco mais tenho a dizer. Eu meramente repito, lembrem-se sempre do seu dever de inimizade para com o Homem e todos os seus costumes. Qualquer coisa que caminhe sobre duas penas é um inimigo. Qualquer coi sa que caminhe sobre quatro patas, ou que tenha asas, é um amigo. E lembrem-se também que ao lutar contra o Homem, nós não devemos nos parecer com ele. Mesmo q uando os tiverem conquistado, não adotem seus vícios. Nenhum animal jamais deverá viver numa casa, ou dormir numa cama, ou usar roupas, ou ingerir álc ool, ou fumar tabaco, ou tocar em dinheiro, ou se envolver em comércio. Todos os hábi tos do Homem são malignos. E, acima de tudo, nenhum animal jamais deverá tiraniza r sua própria espécie. Fracos ou fortes, espertos ou simplórios, nós somos todos irm ãos. Nenhum animal jamais deverá matar outro animal. Todos os animais são iguais. “E agora, camaradas, eu lhes contarei sobre o meu s onho da noite passada. Eu não consigo lhes descrever esse sonho. Era um sonho sobre a terra como ela será quando o Homem tiver desaparecido. Mas ele me lembr ou de algo que eu havia esquecido há muito tempo. Há muitos anos atrás, qua ndo eu era um leitão, minha mãe e outras porcas costumavam cantar uma antiga canção da qual elas só conheciam a melodia e as três primeiras palavras. Eu conhecia a quela melodia na minha infância, mas ela havia escapado da minha mente há muito temp o. Na noite passada, contudo,
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