O Retrato de Dorian Gray
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O Retrato de Dorian Gray , livre ebook

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Description

Publicado em 1890, «O Retrato de Dorian Gray» é uma das obras-primas da literatura mundial e uma narrativa inigualável acerca da decadência moral e da perda da alma em troca dos prazeres mundanos.

Sujets

Informations

Publié par
Date de parution 19 avril 2024
Nombre de lectures 0
EAN13 9789895620357
Langue Português

Informations légales : prix de location à la page 0,0250€. Cette information est donnée uniquement à titre indicatif conformément à la législation en vigueur.

Extrait

Oscar Wilde
O RETRATO DE DORIAN GRAY
título original | the picture of dorian gray
autor | oscar wilde
tradu çã o | janu á rio leite
capa | mim é tica
imagem da capa | ren é magritte: a reprodu çã o proibida (1937)
pagina çã o | mim é tica
copyright | 2019 © mim é tica para a presente tradu çã o
 
esta edi çã o respeita o novo acordo ortogr á fico da l í ngua portuguesa
Í ndice
 
 
 
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
 
Capítulo 1
 
 
 
Perfumava o atelier um delicioso aroma de rosas e, quando a leve brisa sacudia as á rvores do jardim, sentia-se atrav é s da porta aberta a frag â ncia pesada do lil á s ou o perfume mais delicado do espinheiro de flor cor-de-rosa.
Do canto do div ã persa em que estava estendido, fumando, como tinha por h á bito, in ú meros cigarros, Lorde Henrique Wotton o mais que podia com os olhos abranger era um codesso de flores cor de mel, cujos ramos tr é mulos pareciam mal poder com o peso de uma beleza t ã o et é rea e subtil; e, de quando em quando, as fant á sticas sombras de aves voando cruzavam as cortinas de seda que guarneciam a enorme janela, produzindo como que um moment â neo efeito japon ê s e fazendo-o pensar nesses p á lidos pintores de T ó quio que, por meio de uma arte que é necessariamente im ó vel, procuram dar a sensa çã o da ligeireza e do movimento.
O mon ó tono zumbido das abelhas parecia tornar o sil ê ncio ainda mais opressivo. O vago bul í cio de Londres chegava-lhe aos ouvidos como o bord ã o de um ó rg ã o long í nquo.
No centro do quarto, sobre um cavalete, exibia-se o retrato em corpo inteiro de um jovem de extraordin á ria beleza e, em frente, a pequena dist â ncia, achava-se sentado o artista que o pintara, Bas í lio Hallward, cuja brusca desapari çã o alguns anos atr á s havia causado certo alvoro ç o e originado as mais estranhas conjeturas. Ao fitar a sua obra, em que t ã o artisticamente retratara linhas t ã o graciosas e gentis, o pintor n ã o p ô de deixar de sorrir.
Dir-se-ia que esse sorriso prazenteiro se lhe iria demorar nos l á bios, mas, de repente, o artista levantou-se e, cerrando os olhos, colocou os dedos sobre as p á lpebras, como se procurasse prender dentro do c é rebro algum curioso sonho de que receava despertar.
— É o seu melhor trabalho, Bas í lio, a melhor coisa que voc ê tem feito — disse Lorde Henrique, languidamente. — Com certeza vai mand á -lo no ano que vem à exposi çã o de Grosvenor. A Academia é grande de mais e vulgar de mais. De todas as vezes que l á fui, ou havia tanta gente que eu n ã o podia ver os quadros, o que era terr í vel, ou havia tantos quadros que eu n ã o podia ver a gente, o que era pior. Grosvenor é , na realidade, o ú nico lugar.
— N ã o penso mand á -lo a parte alguma — respondeu o artista, atirando para tr á s a cabe ç a, naquele seu jeito singular que, em Oxford, provocava o riso dos amigos. — N ã o! N ã o tenciono exp ô -lo!
Lorde Henrique arregalou os olhos e fitou-o com espanto, atrav é s das espirais azuis de fumo que caprichosamente se evolavam do seu cigarro fortemente opiado.
— N ã o tenciona exp ô -lo? Porqu ê , meu caro amigo? Tem alguma raz ã o? Que esquisitas voc ê s s ã o, os pintores! Fazem tudo para criarem fama. Apenas a t ê m, parecem apostados em a atirarem fora. É uma tolice, pois s ó h á no mundo uma coisa pior que falarem de n ó s: é ningu é m de n ó s falar. Um retrato como este coloc á -lo-ia muito acima de todos os jovens de Inglaterra e causaria inveja a todos os velhos, se é que os velhos s ã o capazes de qualquer emo çã o.
— Bem sei que se h á de rir de mim — replicou ele — , mas o facto é que n ã o o posso expor. Pus nele demasiado de mim mesmo.
Lorde Henrique estirou-se no div ã e desatou a rir.
— Sim, j á sabia que se havia de rir; mas é absolutamente certo, no entanto.
— Demasiado de si mesmo! Palavra de honra, Bas í lio, n ã o sabia que fosse t ã o vaidoso; e, na verdade, nenhuma semelhan ç a posso ver entre voc ê , com a cara forte e enrugada e o cabelo preto como carv ã o, e este jovem Ad ó nis, que parece feito de marfim e p é talas de Tosa. Ele, meu caro Bas í lio, é um Narciso, e voc ê , claro est á , tem uma express ã o intelectual. Mas a beleza, a verdadeira beleza, termina onde come ç a a express ã o intelectual. A intelig ê ncia é em si um modo de exagero e destr ó i a harmonia do rosto. Quando uma pessoa se isenta para pensar, torna-se toda nariz, ou toda testa, ou alguma coisa horrenda. Veja os homens a quem o ê xito sorriu em qualquer das profiss õ es intelectuais. Que hediondos s ã o! Excetuam-se, j á se v ê , os da Igreja. Mas é que na Igreja n ã o se pensa. Um bispo continua a dizer aos oitenta anos o que lhe ensinaram aos dezoito; e, por isso, como consequ ê ncia natural, é que ele conserva sempre uma apar ê ncia absolutamente deliciosa. O seu misterioso amigo, cujo nome nunca me disse, mas cujo retrato realmente me fascina, nunca pensa. Tenho disso a certeza absoluta. É algum indiv í duo belo, destitu í do de c é rebro, que devia estar sempre aqui no inverno, quando n ã o temos flores que nos encanem a vista, e no ver ã o, quando precisamos de alguma coisa que nos refrigere a intelig ê ncia. N ã o se lisonjeie, Bas í lio: voc ê n ã o se parece nada com ele.
— N ã o me compreende, Henrique — respondeu o artista. — É claro que n ã o me pare ç o com ele. Sei-o perfeitamente. Digo-lhe ainda mais: penalizar-me-ia muito parecer-me com ele. Encolhe os ombros? Estou a dizer-lhe a verdade. H á uma fatalidade em toda a distin çã o f í sica e intelectual, aquela esp é cie de fatalidade que parece seguir, atrav é s da hist ó ria, os passos vacilantes dos reis. O melhor é n ã o nos distinguirmos dos outros. Os feios e os est ú pidos s ã o neste mundo os mais ditosos. Podem à sua vontade gozar o espet á culo. Se n ã o conhecem as del í cias do triunfo, tamb é m os n ã o amargura o travo da derrota. Vivem como todos n ó s dev í amos viver, sossegados, indiferentes, sem inquieta çõ es. Nem causam a ru í na dos outros, nem a recebem das m ã os alheias. A sua situa çã o é a sua riqueza, Henrique; o meu c é rebro, seja ele o que for; a minha arte, valha ela o que valer; a beleza de Dorian Gray... havemos todos de sofrer por aquilo que os deuses nos deram, e sofrer terrivelmente.
— Dorian Gray? É assim que ele se chama? — perguntou Lorde Henrique, aproximando-se de Bas í lio.
— É . N ã o lho queria dizer.
— Mas porqu ê ?
— Oh, n ã o posso explicar. Eu nunca revelo os nomes das pessoas de quem gosto imenso. É como que entregar uma parte delas. Amo o segredo. Parece-me ser a ú nica coisa que nos pode tornar a vida moderna misteriosa ou maravilhosa. S ó com o ocult á -la tornamos deliciosa a coisa mais banal. Quando me ausento da cidade, nunca digo para onde vou. Se o dissesse, l á se me ia todo o prazer. Ser á uma tolice, ser á ; mas é um h á bito que me parece introduzir na nossa vida o seu qu ê de romance. Acha, decerto, disparatado o que lhe estou dizendo.
— Nada disso — retorquiu Lorde Henrique — , nada disso, meu caro Bas í lio. Parece-me que voc ê se esquece de que sou casado, e o ú nico encanto do casamento é o tornar absolutamente necess á ria uma vida de engano m ú tuo. Eu nunca sei onde est á minha mulher, e minha mulher nunca sabe o que eu fa ç o. Quando nos encontramos (uma vez ou outra, quando vamos jantar fora, ou quando vamos a casa do duque) contamos um ao outro as hist ó rias mais s é rias do mundo. Minha mulher tem muito jeito para isso: muito mais, confesso, do que eu. Nunca baralha as datas, e eu baralho-as sempre. Mas, quando me apanha em erro, nunca se zanga comigo. Eu à s vezes desejava que ela se zangasse; mas limita-se a rir-se de mim.
— Detesto a maneira como fala da sua vida conjugal, Henrique — disse Bas í lio, encaminhando-se para a porta que dava para o jardim. — Creio que voc ê é , na verdade, um excelente marido, mas envergonha-se das suas virtudes. Voc ê é extraordin á rio. Nunca diz uma coisa moral, e nunca comete uma a çã o m á . O seu cinismo é simplesmente uma pose, e a pose mais irritante que eu conhe 

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