Povo alegremente nu
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Description

Neste quinto volume da Colect�nea de Contos Traduzidos pelos vencedores do Concurso de Tradu��o Liter�ria, apresentamos o segundo livro de contos da mul- tifacetada escritora Ucraniana Kateryna Babkina. Pela m�o de Babkina somos apresentados a um fotojornalista de guerra Americano que com a sua lente trata a dor profundamente pessoal com uma curiosidade profundamente consumista; conhecemos uma mulher de botas baratas de saltos cujo pai preferia que andasse de sapatilhas, como um sinal de for�a e irrever�ncia. As de Kostia, Natasha, Sasha e Roma, s�o est�rias na primeira voz sobre a guerra e os seus efeitos sobre as rela��es familiares e entre um povo. Povo alegremente nu traz-nos pois um ciclo de est�rias com um tema comum, girando em torno da alegria ou, para ser mais preciso, sobre o que nos acontece antes dela. S�o est�rias sobre a gera��o de ucranianos que cresceram e se fortalece- ram o melhor que conseguiram, sobre como estas pessoas vivem - e sobre guerra, amor, emigra��o e, Han�i e, Nova Iorque e, os mortos e, os vivos e, os cegos e, os desmiolados. E o principal, s�o est�rias sobre como ser alegre no meio de tudo isto. Os contos de Babkina foram traduzidos do Ucraniano para as l�nguas inglesa por Hanna Leliv e para as l�nguas francesa, changana, macua, portuguesa e xitswa pelos vencedores do concurso. Lan�ado em 2015, o concurso e a publica��o na g�nese da Editora Trinta Zero Nove venceram em 2021 o Pr�mio Excel�ncia da Feira do Livro de Londres para Iniciativas Internacionais de Tradu��o Liter�ria.

Sujets

Informations

Publié par
Date de parution 26 août 2022
Nombre de lectures 0
EAN13 9789899139039
Langue Português

Informations légales : prix de location à la page 0,0900€. Cette information est donnée uniquement à titre indicatif conformément à la législation en vigueur.

Extrait

“A tradução não se cinge apenas a palavras: é uma questão de tornar inteligível uma cultura inteira.”
Anthony Burgess
EDITORA TRINTA ZERO NOVE
Título: Povo alegremente nu
Título original: Щасливі Голі Люди (Schaslyvi holi lyudy / Happy Naked People)
Autoria: Kateryna Babkina
Direcção da colecção: Sandra Tamele
Revisão: Editora Trinta Zero Nove
Capa e Projecto Gráfico: Editora Trinta Zero Nove
Paginação: Editora Trinta Zero Nove
Impressão: Editora Trinta Zero Nove
ISBN: 978-989-9139-00-8
eISBN: 978-989-9139-03-9
Depósito Legal DL/BNM/1055/2022
Registo 10968/INICC/22
© Kateryna Babkina, 2016 Tradução inglesa © Hanna Leliv, 2018 tradução portuguesa e para as línguas moçambicanas © Editora Trinta Zero Nove, 2022 publicada com o acordo dos tradutores que detêm os respectivos direitos autorais
Av. Amílcar Cabral, nº1042
Maputo
Moçambique
contacto@editoratrintazeronove.org
www.editoratrintazeronove.org
@editoratrintazeronove

A cópia ilegal viola os direitos de autor.
Os prejudicados somos todos nós.
Kateryna Babkina
POVO
ALEGREMENTE NU
Colectânea de Contos Traduzidos pelos vencedores do Concurso de Tradução Literária 2022
Coordenação de Sandra Tamele
Conto | (en)cont(r)os 09
ÍNDICE
RICHARD, CORAÇÃO-DE-GALINHA
RIKARDHO WA NYAWUTOYA
NARIZ E SAPATILHAS
EPHULA NI MALUWATTHA
KOSTIA
BOA BABA, BABA MÁ
MAKAYAAYA OOLELEYA, ONTTHUNA OHIMYA MAKAYAAYA
POPS, O SUBOFICIAL DE SEGUNDA CLASSE
UMA CAIXA CHEIA DE BOTÕES
POVO ALEGREMENTE NU
SOBRE O CONCURSO
A primeira edição deste Concurso de Tradução Literária foi realizada em Julho de 2015 e passou a acontecer todos os anos de Julho a 30 de Setembro, data estabelecida pela UNESCO como Dia Internacional da Tradução em 1991, para comemorar a vida e obra de São Jerónimo, tradutor da primeira versão da Bíblia Sagrada em latim (a ‘vulgata’) e padroeiro dos tradutores.
A iniciativa foi pensada com o intuito de juntar tradutores e intérpretes para celebrar a profissão, e para sensibilizar a sociedade sobre o papel e a importância dos tradutores no diálogo intercultural.
O principal objectivo do concurso é promover a tradução literária, estimulando potenciais e tradutores principiantes a traduzir uma selecção de contos de outras línguas para o Português e/ou para as outras línguas moçambicanas. As três melhores traduções recebem prémios em dinheiro, livros e certificados. Além disso, durante o concurso todos os participantes são elegíveis para participar gratuitamente em oficinas de tradução literária, onde recebem tutoria e teorias e prática de tradução.
Acontece que os contos traduzidos pelos vencedores do concurso de tradução literária permaneceram inéditos durante os primeiros três anos da iniciativa, apesar de terem sido repetidamente apresentados a várias editoras em Maputo, que não demonstraram interesse em publicar as estórias por se tratar de tradução, que não era o seu foco. Isto levou Sandra Tamele a fundar, em Julho de 2018, a Editora Trinta Zero Nove (também inspirada no dia 30 de Setembro), a primeira editora moçambicana vocacionada para a publicação de tradução.
Nas suas oito edições o concurso contou com a participação de mais de 800 jovens, muitos dos quais presentes na cerimónia de anúncio dos vencedores e entrega dos prémios, que se realiza a 30 de Setembro. Neste evento, os contos traduzidos são partilhados com o público numa adaptação dramática muda, superando assim todas as barreiras linguísticas.
O evento ganhou a reputação de ser a iniciativa cultural mais inovadora e inclusiva pelas suas leituras dramatizadas por grupos teatrais juvenis locais e pela interpretação ao vivo em língua de sinais.
Tudo isto levou a que a iniciativa fosse distinguida em 2020 com uma menção especial do Prémio para Excelência Internacional em Iniciativas de Tradução Literária da maior feira do livro do mundo, a Feira do Livro de Londres. Em 2021 o concurso venceu o Prémio de Melhor Iniciativa de Tradução Literária do Mundo no mesmo certame.
Nesta oitava edição, os concorrentes foram desafiados a traduzir para as línguas moçambicanas: Richard the chickenheart, Good Baba, mean Baba, Pops, Nez et baskets, Kostia e Une boîte avec des boutons e Щасливі Голі Людu da renomada escritora Ucraniana, Kateryna Babkina. Em solidariedade com o Povo Ucraniano, esta edição é a primeira em que foi traduzida na íntegra a obra de uma só autora.
Vencedores 2022:
1º Prémio: Sandra Honrado Canotilho pela tradução portuguesa de Pops
2º Prémio: Inocêncio Ramos Artur Nunes pela tradução de Good baba, bad baba para Macua
3º Prémio: Zacaria Filipe Maputire pela tradução portuguesa de Richard, the chickenheart
No lugar de uma Introdução
…e não te esqueças de falar por aqueles que não te querem bem,
os do desamor, desinteresse, demasiado agarrados para te ajudar a pisar a terra,
fala também por aqueles a quem damos, furiosamente, o nome: inimigo,
Os fracos, claro, os maus, os diferentes de ti, os que estão contra ti.
Fala pelos que ficam à tona, acampados, em casa ou no cinema,
por quem cai, quem salta, quem se agacha, quem se deita,
pelos mandados para a creche desde o primeiro dia,
os que ardem no inferno, assam bolos, compram fatos, partem janelas,
que prometem isto e aquilo, e não cumprem,
que não sabem onde, não vêm como.
Dá-lhes nomes para que não percas a conta.
o solteiro que continua ímpar,
quem está lá em cima a reparar azulejos,
quem estaciona sempre fora das linhas,
quem dorme sempre do seu lado direito,
quem limpa gelo dos degraus,
quem enfrentou o medo e morreu em batalha.
Esta noite o candeeiro arde até tarde, silenciosamente dentro e fora do quarto.
Agora estás claro, e leve, não pertences a ninguém, pequeno-co-mo-insecto, leve-como-orvalho.
Correndo como um riacho, cresces alto como uma nogueira, chegas bem alto,
não te esqueças, não escorregues, fala por todos nós, e por todos nós, pede só uma coisa.
RICHARD, CORAÇÃO-DE-GALINHA
Tradução de Denilson Monjane
E stava claro desde o início que ninguém iria a lugar algum. As nuvens acima da cidade tinham trazido chuva, enquanto sentávamos na cozinha, rindo e fazendo planos – onde jantar e o que fazer depois. Serhiy e eu trouxemos Richard connosco; Nadia e Radu juntaram-se a nós pelo caminho. Foram três dias numa cidade do sul à beira mar, ainda mais preciosos roubados dos últimos eventos políticos que todos nós – sendo jornalistas ou fotógrafos – temos acompanhado incessantemente por um longo período, com não mais que um intervalo para um descanso. O verão estava perto, e sentimos que desejava água, mas era sangue que o verão desejava.
Conheci Richard há dois anos em Hanói. Todos os dias, às cinco da manhã, os altifalantes ecoavam canções optimistas nas ruas – os Vietnamitas indo para casa depois de um duro dia de trabalho, tinham de ouvir vozes de crianças elogiando o partido. Os Vietnamitas indo para casa depois de um dia de trabalho fácil dentro dos seus carros enormes não conseguiam ouvi-las. Os altifalantes mal tinham-se silenciado, quando as vozes dos pássaros os abafou: todo café, todo hotel, todo salão de cabeleireiro, e, certamente, toda mercearia em Hanói tinha pássaros em gaiolas. Gaiolas penduradas no tecto ou toldos sobre as janelas das lojas; apertados e estreitos, perdiam-se entre o emaranhado de trepadeiras e cabos eléctricos. Não se encontravam pássaros em nenhum sítio; só duas vezes por dia – antes do pôr e do raiar do sol – eles dominavam a cidade por alguns minutos.
Um dos nossos colegas nos contactou. Concordámos que nos encontrássemos perto da Catedral de St. Joseph e depois vagueamos por esta Notre Dame Vietnamita, tão fora do lugar no meio destes macarrões, palmeiras, e chapéus cónicos, gradualmente nos conhecendo melhor. Havia alguns velhos afrescos preservados no quintal da igreja, três Reis carregando as suas prendas pelo deserto. Um deles apontava para cima admirado – olha, Baltazar, olha, Melchior, parecia dizer, uma samambaia brotou de onde a estrela de Belém devia estar, o que devíamos fazer agora? E então, por muitos, muitos anos, os três vaguearam pelo deserto, tendo perdido de vista os seus marcos – samambaias cresceram de cada uma das paredes em Hanói. Uma mulher idosa, uma vendedora de rua numa bicicleta carregada de frutas, parou e repousou por perto; Ela parecia estar a dormir em pé, o seu chapéu balançando e a sua sombra redonda também, para lá e para cá nas lajes de pedra sob seus pés.
Richard era grande e barulhento, americano até a ponta dos dedos; ele vestia uma camisete “não-é-meu-presidente , mas julgando pelo seu aspecto e as opiniões políticas do seu dono, ele tinha-a desde o mandato do presidente anterior. Richard era obcecado pelos mortos.
Passou dois meses a viajar pela linha férrea de Truong Son e visitando locais da Guerra do Vietname. Richard fotografou os vivos como se estivessem mortos; tinha uma habilidade para encontrar as posições e os ângulos certos – nas suas fotografias, surfistas tirando uma soneca pareciam cadáveres de soldados abandonados depois de uma batalha brutal, e os filhos dos turistas preguiçosamente olhando de soslaio, encostadas às paredes das câmaras de tortura, enquanto os seus pais escutavam os guias turísticos, pareciam pequenos combatentes Vietnamitas massacrados. Mesmo um grupo de anciãos holandeses observando o exterior do hotel e caminhando para o machimbombo se assemelhavam a refugiados abatidos, e o que desajeitadamente segurava um pasta parecia estar a segurar uma criança morta.
As fotografias do Richard – todas elas estranhas e todas sobre mortos vivos – foram vendidas para revistas de renome. Até a Time e a Esquire compraram. Richard era de Seattle, e era a sua primeira vez no estrangeiro. De qualquer modo, era muito jovem e lidava com o conceito de morte e cronicando cadáveres no mundo dos vivos como a glorificação da fluidez e mudança, como uma investida em perder tempo, como resistência social, e revolta contra tudo que oprime a vitalidade do corpo humano, e como as outras

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